Com mais de 10% da população brasileira vacinada com a segunda dose – 20 milhões de brasileiros -, é lógico que quem está imunizado comece a pensar na possibilidade de arrumar as malas. Os vacinados com duas aplicações são os maiores de 60 anos, e têm, a princípio, mais disponibilidade para viajar. A Now Boarding conversou com o médico infectologista Rodrigo Juliano Molina, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, que explica o momento atual da pandemia da Covid-19 no Brasil e dá a resposta à pergunta: “Tomei a segunda dose, posso viajar?”.

O Brasil está completando a vacinação da população acima de 60 anos com a segunda dose, principalmente com a CoronaVac. É de se imaginar que, imunizadas, estas pessoas possam sentir-se seguras para viajar. Como médico infectologista o senhor recomenda viajar?

Rodrigo Molina – Nós vivemos ainda um momento sério da pandemia, estamos encerrando uma segunda onda e já pensando na terceira. Muitos casos, muitos óbitos. Então, mesmo os vacinados não podem se sentir seguros e não é o momento de viajar porque a pandemia ainda não acabou. Lembrando que as vacinas não fazem uma proteção de 100% contra a doença. Elas podem proteger das formas mais graves, porém, temos visto pessoas mesmo com duas doses da vacina ainda ficando doentes e até mesmo falecendo. Depende muito da resposta individual. Então, não é o momento de programar viagens.

Quais as recomendações para aqueles que precisam viajar? No avião, alguma precaução extra além de usar máscaras? E nos ônibus?

Rodrigo – Para aqueles que precisam viajar a recomendação é o uso de máscara, de preferência uma máscara melhor que ele possa trocar no meio da viagem, ou usar a máscara N95 que pode usar por mais tempo. O problema é a dificuldade de respirar com estas máscaras que os profissionais de saúde estão mais acostumados a utilizar. Evitar contatos. Muitas vezes em aviões e ônibus não vai ter um distanciamento correto. Carregar álcool em gel e evitar de tocar nas coisas e, se tocar, usar o álcool em gel.

O senhor poderia explicar a diferença entre as vacinas CoronaVac e AstraZeneca na questão da imunização? Qual a eficiência delas? Quais são as contraindicações? E com a segunda dose, que tipo de proteção a pessoa adquire?

Rodrigo – Estas duas vacinas têm plataformas diferentes. A AstraZeneca usa o vetor viral e a CoronaVac o vírus inativado, então elas têm diferença na forma como são produzidas e têm eficácia diferente. A AstraZeneca tem eficácia um pouco maior que a CoronaVac, mas ambas protegem das formas graves; a AstraZeneca protege um pouco mais das formas leves. Tem tempo para a segunda dose diferente: a CoronaVac de quatorze a 28 dias para fazer a segunda dose, enquanto a AstraZeneca a segunda dose é em torno de doze semanas ou três meses. Espera-se que após a aplicação de ambas as vacinas a eficácia final seja estabelecida quatorze a trinta dias após a segunda dose.

Mesmo vacinadas, que cuidados as pessoas devem ter? Existe, mesmo vacinado, possibilidade de ser infectado?

Ricardo – As vacinas não protegem 100% das formas leves. Então, um vacinado pode adquirir a doença e ficar numa forma leve ou assintomática e com isso ele pode transmitir a doença para outra pessoa não vacinada, então há risco dele adquirir e transmitir. Por isso precisa manter os cuidados mesmo após a vacinação, enquanto não tem uma diminuição global do número de infectados no país e como já ocorreu em alguns outros.

Uma parcela da população está optando por não se vacinar. Por que as pessoas devem se vacinar?

Ricardo – Infelizmente, nós temos uma parcela da população que não quer vacinar, que é contra qualquer tipo de vacina ou essas em especial. Neste caso esta pessoa não tem proteção e está à mercê de uma forma grave da doença. Ela tem este risco.

O vírus foi se modificando – ou se aperfeiçoando? – ao longo do tempo, com as cepas da África do Sul e do Amazonas, por exemplo. Pela sua experiência como infectologista, qual a perspectiva futura deste vírus: ele vai continuar se transformando e aumentando sua letalidade?

Ricardo – Nós sabemos que esses vírus respiratórios têm uma capacidade de mutabilidade muito grande e essas mutações ocorrem durante a transmissão. Enquanto tivermos uma alta transmissibilidade desta doença, a gente vai ter mutação. A expectativa é que o vírus evolua e vá se modificando até que chegue a uma cepa que seja mais estável e consiga sobreviver mais tempo. Com isso ele tem a chance de aumentar sua letalidade. Por isso é que precisamos conter a transmissibilidade viral.

Foto: Gustavo Fring/Pexels

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