COM EXCEÇÃO DOS RESSENTIDOS, TODOS SABEMOS QUE O RACISMO É UMA DAS DOENÇAS MAIS IDIOTAS QUE PODEM ATINGIR AS CRIATURAS HUMANAS.

E sabemos também que há racismos de diversos tipos e tamanhos, que se expressam de formas mais ou menos dissimuladas, embora sempre com uma flagrante idiotice.

Vejamos um caso acontecido no futebol.

Daniel Alves, lateral direito da seleção brasileira, hoje no Paris Saint-Germain, jogava sua bola redonda quando uma banana foi arremessada em sua direção.

Na cabeça do racista que a arremessou, tratava-se de gravíssima ofensa ao jogador que, sendo um mestiço brasileiro, mereceria ser considerado um macaco desprezível.

Eis a amostra de burrice extrema.

Destaco a atitude inteligente de Daniel Alves. Como estava junto à linha de campo para bater um escanteio, deu dois passos, apanhou a banana, descascou-a e a comeu. Feito isso, cobrou com maestria o outrora chamado tiro de canto. Com tal atitude colocou-se muito acima de quem pretendia agredí-lo. Comeu a banana. Não se abalou. Ao racista agressor restou retornar ao anonimato cinzento de sua vidinha medíocre.

Mas há algo mais. Penso na insistência com que racistas costumam aplicar, como ofensa, o rótulo de macaco a negros ou mulatos.

Estranho, pois é certo, exceto para mentecaptos, que os macacos em geral e os chipanzés em particular, são animais extremamente inteligentes, além de hábeis e divertidos. Nossos parentes na árvore das espécies não mostram qualquer sinal de burrice ou inferioridade.

Eis a mostra da idiotice dos racistas.

Mas há outra coisa: a cor. Os racistas fazem a seguinte relação: os macacos são pretos, os africanos e descendentes são pretos. São macacos, portanto.

Vários enganos. Lembro que os indígenas brasileiros, quando dos primeiros contatos com portugueses, julgaram estar diante de seres estranhos que lembravam macacos.

A razão é simples – e não se trata da cor da pele. Ocorre que os portugueses têm muitos pelos no corpo, seja no rosto, nos braços e pernas, no peito e nas costas. Ora, os macacos também. A semelhança estava na cor da pelagem, negra. Por isso, e com a cordial gaiatice dos tupiniquins, os portugas eram às vezes chamados de macacos. Sem ofensa, que indígenas não são patetas para agir como racistas.

Mas há outro fator. Os macacos são brancos. Isso mesmo, brancos. A pelagem é negra, mas a pele é branca. Desta maneira, se alguém tivesse mais semelhança com os macacos, seriam os europeus peludos.

Só o ressentimento doentio dos racistas não enxerga os preconceitos nos quais alimentam seus ódios.

A mim, observador entediado da cena humana, me parece que até os que combatem o racismo poderiam aprender algo com essas divagações que faço. O macaco é animal ágil, inteligente, brincalhão e boa gente. Portanto, ser chamado de macaco não deveria ser considerado ofensa.

Eis porque Daniel Alves aniquilou com o racista que pretendeu atacá-lo. Agiu, como aconselhava o filósofo grego Sêneca: “Acaso alguém pareceria estar no seu juízo se revidasse a uma mula com coices?”

Roberto Gomes, escritor

Publicado na Now Boarding – março/2019

Imagem: Marcos Goncalves Vilas Boas/ Pixabay

 

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