Por cinquenta anos o casal franco-brasileiro Jacques Boulieu e Maria Helena de Toleto Boulieu viajou pelo Brasil, América Latina, Europa e Ásia adquirindo preciosidades que irão compor o acervo do Museu de Arte Sacra Boulieu –  Caminhos da Fé que será aberto hoje, 25 de março, em Ouro Preto, Minas Gerais. A maior parte do acervo é constituída por objetos de arte sacra ligadas a história dos Grandes Descobrimentos e a fabulosa expansão de Espanha e Portugal nas Américas e na Ásia a partir do século XV.

Para evitar a dispersão deste acervo o casal doou para Arquidiocese de Mariana, Minas Gerais, cerca de 1,5 mil dessas obras, escolhidas entre as mais importantes, por seu caráter artístico, cultural ou histórico.

O casal Boulieu se conheceu no Rio de Janeiro onde Jacques desempenhava a função de diretor da Sanofi Parfumes e Maria Helena morava com a família. Casaram-se em 1959 em cerimônia prestigiada com a presença do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que foi padrinho dos noivos.

A trajetória do casal Boulieu

Maria Helena é pianista e passou sua juventude em Minas Gerais, onde sua família ainda tem laços. Fez parte da secretaria do presidente Getúlio Vargas e depois da secretaria de Juscelino Kubitschek. Embora morando no Rio de Janeiro, a casa da família em Ouro Preto foi preservada e contém os restos de uma antiga mina de ouro.

Jacques nasceu em Lyon no dia 17 de junho de 1927, tem hoje 94 anos, e mantém o vigor de um garoto. Em 1951 mudou-se para Argentina, ainda com os horrores da guerra frescos na mente, com a missão de representar a Sanofi na América Latina. Filho de uma serralheira, sempre foi apaixonado pela arte medieval e por igrejas românicas, especialmente as góticas. Depois de dois anos na Argentina e Uruguai e mais quatro anos em São Paulo, descobriu Minas Gerais, vindo a se encantar pela arte colonial brasileira que lhe remeteu às emoções da juventude, em especial das igrejas coloniais e pelo barroco brasileiro.

Casa da família de Maria Helena de Toleto Boulieu em Ouro Preto. Arquivo Pessoal

Logo após o casamento, em 1959, o casal inicia uma série de incontáveis viagens. A preferência sempre foi por locais cuja arquitetura lhes despertasse interesse. Foi assim por todo o Norte do Brasil, Peru, Bolívia, Equador, América Central, México e além mar, com passagens pela Ásia. O casal seguiu os passos dos navegadores portugueses e de São Francisco Xavier, incluindo Índia, Malaca, Indonésia, todo o Extremo Oriente e Filipinas.

Museu Boulieu – Caminhos da Fé

O Museu de Arte Sacra, que abre hoje (25) em Ouro Preto, é um dos poucos no Brasil e vai reunir peças de arte colonial mineira e de outras regiões brasileiras. Além de rica coleção de peças dos locais onde viveram os descobertos e cristianizados, até as Filipinas, por Cristóvão Colombo, Vasco da Gama, Magalhães, Cabral e outros grandes navegadores ibéricos do o século XVI passaram.

O Museu de Arte Sacra Boulieu mostra um conjunto diversificado e coerente de objetos de arte sacra do período colonial da Ásia, América Latina e Brasil. A sua apresentação evoca a expansão da civilização europeia e da fé cristã no Novo Mundo dos Grandes Descobrimentos.

O Museu recebeu apoio da Câmara Municipal e da Prefeitura de Ouro Preto, Iphan, Companhia Vale, Instituto Cultural Brasileiro do Divino Espírito Santo e Arquidiocese de Mariana. O projeto recebeu da União para sua criação, R$ 8.114.647,52. A sessão jurídica e a viabilização do local, antiga Câmara Municipal, foi sustenta por defesa do experiente advogado José de Anchieta, presidente da centenária Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas).

Acervo. Foto: Instituto Pedra

A escolha de Ouro Preto tem sentido simbólico, pois é uma cidade tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. O local do Museu de Arte Sacra Boulieu, que é central, tem a vantagem de possuir infraestrutura e espaço capaz de abrigar toda a coleção. Foi uma doação da Câmara Municipal e apoio devotado do prefeito Angelo Oswaldo, uma enciclopédia viva e atuante, e do arcebispo de Mariana, Dom Luciano Mendes de Almeida.

O edifício de 800 m² e dois andares, foi construído por volta de 1920 e restaurado para abrigar a coleção que tem mais de quatro mil objetos dos quais 1,2 mil constituem a doação do casal Boulieu. São esculturas, pinturas e ourivesarias, feitas nos mais diversos materiais: jacarandá maciço e madeiras exóticas, prata, marfim, “pedra sabão”, pedra de “Huamanga”, terracota, madeira policromada e dourada. O acervo reúne móveis, imagens e retábulos das regiões de Pernambuco, Maranhão, Bahia, Goiás e Norte do país.

Inclui também talheres, pinturas da época colonial e imagens esculpidas pelos descendentes de índios pré-colombianos e a América Latina ocupa um lugar importante. Vindas das lendárias terras distantes da Ásia, Índia, Ceilão e Filipinas, as imagens de marfim ou madeira enriquecem-se mutuamente com seu caráter exótico.

Como fiel depositário de todo acervo, a Arquidiocese de Mariana ficará responsável pela conservação e apresentação das obras doadas.  O museu fica na R. Padre Rolim, 412, Centro de Ouro Preto. Das regiões do Brasil até o Extremo Oriente, a sua viagem de descoberta histórica e cultural da arte religiosa será inesquecível no “Caminhos da Fé”.

José Aparecido Ribeiro, jornalista e presidente da Abrajet-MG

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