“Nonada”. Essa é a primeira expressão – impressão – que o leitor encontra na parte inicial do livro “Grande Sertão: Veredas”, do mineiro João Guimarães Rosa. A exemplo do termo, desconhecido da maior parte das pessoas, a obra em questão também possui elementos para lá de singulares. Vai mal quem tenta encontrar capítulos no calhamaço de mais de 600 páginas, por exemplo.

A ausência das formalidades somente reafirma o nonada da primeira linha: Rosa foi, sem dúvida, o escritor de linguagem mais original na língua portuguesa.

Escrito em 1956, “Grande Sertão”apresenta as aventuras – e desventuras – do jagunço Riobaldo. Porém, ao contrário do que o senso comum presunçosamente suporia, o personagem acaba por tecer, ao longo de seu relato em primeira pessoa, questionamentos filosóficos bastante complexos. Há, ainda, uma série de reviravoltas na trama, a maior delas uma “amizade meio estranha”, desnudada apenas na parte final da história. Tudo isso temperado pelo teor regionalista do único romance de Guimarães Rosa. Quer conhecer um pedaço ainda pouco explorado do Brasil? Embarque nessa viagem pelo grande sertão de Minas e suas veredas; o lombo do burrinho Pedrês pode ser o meio de transporte.

Poty

Médico por formação, diplomata aclamado e escritor de “talento” puro, Rosa contribuiu também – quem diria? – para disseminar a fama de um outrora desconhecido artista paranaense. Após a profícua parceria com o autor de “Grande Sertão: Veredas”, Poty Lazzarotto teve seu trabalho difundido país afora, por meio das ilustrações de capa. E a escolha não poderia ter sido mais acertada: as linhas simples e duras de Poty retratam visualmente os causos do homem do mato, que Rosa destilava magistralmente.

Inclusive, uma versão da primeira edição de “Grande Sertão: Veredas”, com as famosas gravuras de Poty, foi reeditada recentemente, com distribuição exclusiva da Livraria do Chain.

A propósito: o “nonada”significa ninharia, insignificância. Livraria José Olympio Editora. R$ 29,90.

Amanda Chain

vendas@livrariadochain.com.br

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Publicado no Aeroporto Jornal – abril/2017

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