Isabella Rezende é jornalista. Ela deixou o calor da Bahia e veio visitar o Paraná. Desceu a Serra do Mar de trem, passou por Morretes, Antonina e pela Estrada da Graciosa. Uma baiana que conhece o litoral do Paraná descreve a viagem. As fotos são de Mariah Moura.

Quem vai para o Paraná e desce a serra de trem, tem um prato de comida virado em cima da cabeça, come bacucu e vê o lugar em que o oceano atlântico entra mais dentro da costa?

Pois eu vim de Porto Seguro para o Paraná e passei por essas e outras histórias. Quando vim passar férias em Curitiba não imaginava que aqui perto existiam lugares como a Serra do Mar e as cidades de Morretes e Antonina.

Numa quarta-feira, Mariah e eu descemos a Serra do Mar de trem, pela Serra Verde Express. Em nosso vagão aconteceu algo muito raro: 80% dos passageiros eram de Curitiba.

Iniciando a serra, existe a floresta de Araucárias. São lindos aqueles pinheiros em forma de cálice, símbolo do Estado. Pela estrada de ferro passamos por antigas estações do trem como de Banhado, que hoje serve de alojamento para os funcionários da ferrovia, a Marumbi, dentro da área de proteção ambiental e ao lado do pico do Marumbi,
um dos maiores do Paraná, e a cachoeira Véu de Noiva, onde dizem que se as moças fizerem um pedido logo casam.

A construção da estrada é um show à parte. Ela foi feita há mais de cem anos e com um projeto de engenharia fabuloso. Um dos túneis é numa fenda chamada de Garganta do Diabo, e o passageiro pode, ainda, avistar um morro em forma de cachorro, várias cascatas e rios. Paisagens maravilhosas e extasiantes.

À beira dos trilhos existe uma cruz de ferro, que segundo o guia é em homenagem ao Barão de Cerro Azul que foi assassinado dentro de um vagão de trem e jogado naquele local sem um julgamento justo por ter se mantido neutro
no embate dos maragatos contra o governo.

O ponto final do passeio é Morretes, cidade ao pé da serra que como o nome diz fica entre morros. Por lá passa o Rio Nhundiaquara que oferece uma atração: descer o rio de boia.

De lá seguimos para Antonina, a 15 km de Morretes. O nome da cidade é em homenagem ao irmão de Dom Pedro, Antônio.

Chegando ao hotel Camboa, vi a igreja e a praça. Dizem que toda cidade começa de uma igreja e uma praça, porém em Antonina a igreja é virada para o lado e foi construída dessa forma para ser de frente para a baía e abençoar a
todos os pescadores. As fachadas antigas da cidade continuam conservadas, ainda mais agora que serão tombadas pelo patrimônio histórico e cultural.

No almoço, no Restaurante Buganvil, provei o tal do barreado, comida típica paranaense e cheia de rituais para a preparação. O barreado é feito com carne de segunda e temperos como cominho e louro, cozido por 24 horas dentro de uma panela de barro fechada com uma liga de farinha e água. A carne fica toda desfiada e para comer é preciso fazer uma espécie de pirão com farinha branca. O Mauro, garçom que estava me ensinado a preparar o prato, disse que barreado bom é aquele que não cai na cabeça do cliente – e virou o prato em cima de mim. Para acompanhar,
banana frita. Comi dois pratos. De sobremesa banana em calda de laranja.

Antonina tem várias lendas como a da Cigana Bartira, que teria sido enforcada na praça e seu cavalo, por sentir sua falta, se jogou na baía. Segundo a lenda, até hoje é possível escutar o cavalo da cigana cavalgando pela praça.

No jantar, agora no Restaurante Baía de Antonina, acabei provando mais uma particularidade oferecida por Antonina: o Bacucu. É uma espécie de marisco típico da região preparado com molho ou no vinagrete e ainda muito peixe e camarão. Custa apenas R$ 25,95 por pessoa. Foi o melhor peixe que comi e olha que na Bahia tem muito
fruto do mar bom. E foi o Wilsinho Clio, dono do restaurante, que nos contou que a baía de Antonina é a que mais adentra a costa do Oceano Atlântico.

Voltamos para o hotel e para fechar nossa noite com chave de ouro assistimos, da varanda do nosso apartamento, um maracatu indo para o trapiche. Aliás, o hotel tem excelente estrutura e é muito bem localizado.

Na manhã seguinte voltamos a Curitiba pela estrada da Graciosa, estradinha de paralelepípedos, cheia de curvas, pelo meio da serra e muito linda. Com bicas de água, cascatas, rios e flores (muitas flores), foi construída nos idos de 1875, e é um passeio imperdível. No fim da estrada existe um portal que me mostrava que eu acabava de sair de um lugar mágico que, ao mesmo tempo em que me lembrou um pouco o Arraial d’Ajuda, me fez conhecer coisas novas
e pessoas, principalmente pessoas, que nunca vou esquecer.

A jornalista viajou a convite da Prefeitura de Antonina, Serra Verde Express, Camboa Hotel e Associação dos Empreendedores de Serviços Turísticos de Antonina

Publicado no Aeroporto Jornal – outubro/2011

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