A África é um continente muito caro para se viajar e uma opção mais em conta para o viajante mais intrépido e destemido são as viagens de caminhão do tipo overland. Foi o que fizemos: 4.000 km a bordo de um truck pelo continente negro. É um caminhão truck transformado para carregar passageiros em viagens que duram de 9 a 56 dias e percorrem o trecho Nairóbi–Cidade do Cabo (o clássico Cairo-Cabo se tornou impossível em razão de escaramuças no Sudão). O estilo é o camping participativo onde todos montam suas barracas e ajudam com a alimentação que é feita por um cozinheiro que acompanha o grupo (além dele, o motorista e líder do tour).

Eu e o amigo que me acompanhou, optamos por iniciar a viagem em Victoria Falls no Zimbábue, mais ou menos no meio dessa rota, e seguir pela Zâmbia, Botsuana, Namíbia e por fim, 24 dias depois, África do Sul. O Zimbábue, onde chegamos em dezembro, é caso clássico de país africano governado por um rico ditador populista e déspota que não larga o poder.

Com a economia em frangalhos é dono da maior inflação do planeta onde as notas de dinheiro têm a data de validade impressa. Falta absolutamente tudo. O parque Hwange, que visitamos, é um exemplo da crise. Magnífico e às moscas. Com o parque inteiro praticamente para nós fizemos um safári a pé, acompanhados de um guarda e sua AK-47.

Uma cena, registrada ao lusco fusco do final de um dia, marcou-me: ao atravessar alguns arbustos, enormes girafas passaram calmamente a poucos metros de nós, ignorando nossa presença, lembrando uma cena do filme Parque dos Dinossauros.

Apesar dos problemas internos os lugares continuam lindos como as majestosas cataratas Victoria. O rio Zambezi vem dividindo o Zimbábue da Zâmbia até sumir no horizonte caindo numa garganta de 110 metros de altura fazendo um barulho muito parecido com o de uma turbina de avião.

Repeti o que fez Livingstone em 1855 ao descobrir as quedas e, rente ao chão, me aproximei da beirada para ouvir o estrondo ensurdecedor.

Aliás, no lado zambiano das cataratas, existe um passeio que levam os turistas para tomar banho de rio na beirada das quedas, um perigo para quem têm tendências suicidas…

Neste mesmo rio, logo abaixo das cataratas, se inicia o melhor (e ao mesmo tempo pior) rafting do mundo, com 29 corredeiras no seu curso e 24 mortes no seu “currículo”. A adrenalina e a irrestrita impossibilidade de desistir no meio do caminho nos fez curtir muito as penosas e aterrorizantes 7 horas no bote.

Depois do sofrimento, seguimos viagem ao promissor Botsuana.

A imagem deste país contrastava com o que tínhamos acabado de ver no Zimbábue, pois a indústria do diamante e anos de uma estabilidade incomum entre os seus pares africanos denotavam prosperidade.

Após um safári náutico no Parque Chobe, fomos ao Delta do rio Okavango, único interno do mundo, aonde acampamos por 3 dias numa ilha remota a dezenas de quilômetros de qualquer vestígio de civilização, vigiados de perto por elefantes e famintos mosquitos transmissores de malária, que ainda é um problema na África. O transporte é feito nas chamadas mokoros, canoas cavadas num só tronco, que atravessam grandes áreas alagadas habitadas por hipopótamos curiosos.

Na ilha nossos passeios a pé eram feitos logo ao amanhecer e ao final da tarde em razão do calor insuportável do meio do dia. E nossa viagem foi durante o inverno! Para passar o tempo um torneio de cricket foi organizado entre os ingleses e australianos do grupo.

Usamos cascas de árvore como bastão e pequenos cocos como bola, que invariavelmente se perdia no meio do mato a cada tacada.
De lá fomos para uma das jóias turísticas escondidas do mundo, a pouco conhecida Namíbia (famosa entre nós apenas pelo fato de ser o “lado de lá” do oceano que banha nosso Litoral).

Com o tamanho de 4 Inglaterras e apenas 1,7 milhão de colônia alemã e até 1990 era um Estado sul-africano (com apartheid e tudo), é admirável. Há uma infinidade de coisas para se visitar com grandes vazios entre elas. Começamos pelo parque de Etosha, um dos melhores de toda a África, casa dos “cinco grandes” (elefante, leão, leopardo, rinoceronte e búfalo) e com excelente estrutura.

Visitamos uma tribo himba, um dos povos mais antigos da África, normalmente arredios a presença de estranhos e uma fazenda de criação de guepardos. O dono dessa fazenda, ex-caçador arrependido das mesmas cheetas que agora cria, havia lutado na guerra África do Sul–Angola na década de 70, e tem um bar decorado com artefatos bélicos.

Rumamos então a Spitzkkope, que parece muito com Monument Valley nos Estados Unidos, cenário de filmes de faroeste antigo. Rochedos e montanhas no meio de um nada árido, um lugar lindo. Dormimos em volta de uma fogueira dentro de uma caverna que o vento esculpiu dentro de uma greta de monolito. Fomos então à germânica Swakopmund, incrível cidade que está mais para Califórnia do que para África, praia aonde os bens nascidos locais e sul-africanos vão passar férias.

Não à toa o primeiro herdeiro Jolie-Pitt lá nasceu. Fizemos quadbiking (passeio em quadriciclo) e sandboarding (surfe nas dunas) nas areias do deserto de Namib, e curtimos a festa de ano novo no meio do deserto. Um cenário absolutamente surreal. Visitamos ainda Soussvlei e suas extraordinárias dunas avermelhadas e o segundo maior canyon do mundo, o Fish River Canyon, antes de entrar na África do Sul rumando direto à Cidade do Cabo.

Kapstaad como é chamada na língua africâner (uma variação do holandês) é sem dúvida uma das mais bonitas cidades do mundo. Uma semana lá regada à praia e sossego foi um belo fim de viagem depois de quase um mês legitimamente africano. A cidade pode ser descrita, para que não conhece, como um Rio de Janeiro sem favelas nos morros.

Lá subimos a Table Mountain, enorme montanha com o topo achatado que domina a vista da cidade; visitamos a região vinícola; fomos à prisão de Robben Island onde Nelson Mandela passou 18 anos preso e hoje é um interessante museu. Fomos também à Gansbaai, para uma última aventura. Desta vez a fauna visitada foi à marinha, mais precisamente enormes tubarões brancos que podem ser vistos em mergulhos dentro de jaulas.

André Gonçalves Zipperer, advogado

Publicado no Aeroporto Jornal – janeiro/2010

4.000 km on board of a truck through the dark continent

André Gonçalves Zipperer, lawyer

Africa is an expensive continent to travel to, and a cheaper option for the most intrepid and fearless traveler are the overland truck trips. It is a modified truck to carry passengers in trips that last from 9 to 56 days going from Nairobi to Cape Town. Its style is participating camping where everybody set up their huts and help with the feeding that is done by a cook who follows the group (besides him, the driver and leader of the tour).

Me and a friend that went along with me, chose to begin the trip in Victoria Falls, in Zimbabwe, approximately in the middle of that route, and to follow through Zambia, Botswana, Namibia and finally, 24 days later, South Africa. In this course you find the contrasts of this continent.

Zimbabwe is a classic type of country governed by a rich populist and despotic dictator that doesn’t release the power and where absolutely everything lacks. The Hwange park is example of the crisis. Magnificent and abandoned, we made a safari by foot, with a guard and his AK -47. In spite of the internal problems the places remain beautiful as the majestic Victoria waterfalls and the river Zambezi that falls into a throat of 110 meters height.

There I repeated what Livingstone did in 1855 when discovered the falls and, close to the ground, I approached the margin to hear the deafening roar.

Therefore below the waterfalls, the best (and at the same time the worst) rafting of the world, with 29 rapids in its course and 24 deaths in its curriculum. In Botswana, we went to the Delta of the river Okavango, the only intern of the world, where we camped for 3 days in a remote island to dozens of kilometers of any civilization track, watched closely by elephants and starving mosquitoes transmitters of malaria, which
remains a problem in Africa. From there we went to one of the hidden tourist jewels of the world, Namibia. There is an infinity of things to visit with great emptiness among them.

We began with the park of Etosha, one of the best of the whole Africa, house of the big five (elephant, lion, leopard, rhinoceros and buffalo) and with excellent structure. We visited a himba tribe, one of the oldest in Africa, usually withdrawn to the strangers’ presence, and a farm of cheetahs breeding.

Then we went to Spitzkkope, that looks a lot like Monument Valley in the United States. Crags and mountains in the arid middle of nowhere, a beautiful place. We slept by a bonfire in a cave where the wind shaped inside of a monolith rift. We went then to the Germanic Swakopmund, an incredible city that is more like California than Africa, where the rich local people and South Africans spend vacation.

We made quad biking and boarding in Namibia’s desert sands, and enjoyed the new year’s party in the middle of the desert. We still visited Soussvlei and their extraordinary red dunes and the second largest canyon of the world, Fish River Canyon, before getting into South Africa straight to Cape Town that is, without a doubt, one of the most beautiful cities of the world. One week there in peace at the beach was a beautiful end of trip after almost one legitimately African month.

4000 km a bordo de un camión por el continente oscuro

André Gonçalves Zipperer, abogado

África es un continente caro para viajar, y una opción más barata para el viajero más intrépido y valiente son los viajes en camión por tierra. Es un camión modificado para transportar pasajeros en viajes que duran de 9 a 56 días desde Nairobi hasta Ciudad del Cabo. Su estilo es el campamento participativo donde todos montan sus cabañas y ayudan con la alimentación que hace un cocinero que sigue al grupo (además de él, el conductor y líder del recorrido).

Yo y un amigo que me acompañaba, optamos por comenzar el viaje en las Cataratas Victoria, en Zimbabwe, aproximadamente en medio de esa ruta, y seguir por Zambia, Botswana, Namibia y finalmente, 24 días después, Sudáfrica. En este curso encontrarás los contrastes de este continente.

Zimbabue es un tipo clásico de país gobernado por un dictador rico populista y despótico que no libera el poder y donde absolutamente todo falta. El parque Hwange es un ejemplo de crisis. Magnífico y abandonado, hicimos un safari a pie, con un guardia y su AK -47. A pesar de los problemas internos los lugares siguen siendo hermosos como las majestuosas cascadas Victoria y el río Zambezi que cae en una garganta de 110 metros de altura.

Allí repetí lo que hizo Livingstone en 1855 cuando descubrí las cataratas y, cerca del suelo, me acerqué a la margen para escuchar el rugido ensordecedor.

Por tanto, debajo de las cascadas, el mejor (y al mismo tiempo el peor) rafting del mundo, con 29 rápidos en su recorrido y 24 muertes en su currículum. En Botswana, nos dirigimos al Delta del río Okavango, el único interno del mundo, donde acampamos durante 3 días en una isla remota a decenas de kilómetros de pista de cualquier civilización, vigilados de cerca por elefantes y mosquitos hambrientos transmisores de la malaria, cuales
sigue siendo un problema en África. De allí nos dirigimos a una de las joyas turísticas escondidas del mundo, Namibia. Hay una infinidad de cosas para visitar con gran vacío entre ellas.

Comenzamos por el parque de Etosha, uno de los mejores de toda África, casa de los cinco grandes (elefante, león, leopardo, rinoceronte y búfalo) y con excelente estructura. Visitamos una tribu himba, una de las más antiguas de África, generalmente retirada a la presencia de extraños, y una granja de cría de guepardos.

Luego fuimos a Spitzkkope, que se parece mucho a Monument Valley en los Estados Unidos. Peñascos y montañas en el medio árido de la nada, un lugar hermoso. Dormimos junto a una hoguera en una cueva donde el viento se formó dentro de una grieta monolítica. Luego fuimos a la germánica Swakopmund, una ciudad increíble que se parece más a California que a África, donde los ricos locales y sudafricanos pasan sus vacaciones.

Hicimos paseos en quads y abordamos en las arenas del desierto de Namibia, y disfrutamos de la fiesta de año nuevo en medio del desierto. Seguimos visitando Soussvlei y sus extraordinarias dunas rojas y el segundo cañón más grande del mundo, Fish River Canyon, antes de adentrarnos en Sudáfrica directamente a Ciudad del Cabo que es, sin duda, una de las ciudades más bellas del mundo. Una semana allí en paz en la playa fue un hermoso final de viaje después de casi un mes legítimamente africano.

 

Comentários

Leave A Comment