Todo mundo tem sua viagem dos sonhos. Ela pode ser uma realidade distante ou até impossível para pessoas LGBT*. Há países onde ser homossexual ainda é crime e passível de pena de morte. Mas as pessoas estão sujeitas a perigos mesmo em viagens usuais. Para discorrer sobre estes temas, aconteceu em São Paulo o 5º Fórum de Turismo LGBT do Brasil 2021. A Now Boarding acompanhou o evento.

Atualmente, a comunidade LGBT representa 10% do turismo mundial e 16% de toda a movimentação financeira do turismo. O segmento que movimenta, anualmente, US$ 3 trilhões em nível global. Ainda assim, a homofobia e a transfobia são recorrentes. Deixar de pensar em soluções para acolher pessoas LGBT representa tanto a conformidade com a exclusão delas quanto falta de visão de mercado.

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Praia da Pipa, um destino gay friendly

É comum pensar nas bandeiras de arco-íris e festas. Mas será que este estereótipo está de acordo com as necessidades? A demanda do público LGBT é altamente diversa. O segmento tem preferências de compra em todos os tipos de turismo existentes. Cultura, praia, história, negócios, lazer, romance, aventura… A lista segue.

Pensar num turismo LGBT não é sobre criar pacotes de viagem com estética colorida, mas sobre imergir no desafio de capacitar os profissionais a abraçarem a diversidade.

Fórum de Turismo LGBT: o evento

O evento ocorreu dia 30 de setembro, das 9 horas às 18 horas, no hotel Tivoli Mofarrej São Paulo. Foi restrito a profissionais do turismo. 150 pessoas acompanharam no formato presencial e também houve transmissão ao vivo pelo Youtube.

Foram 4 painéis de discussão para aprofundar o conhecimento sobre o turismo LGBT e 16 workshops apresentando empresas e destinos que já estão com a diversidade em foco. Os temas dos painéis foram: “turismo para pessoas trans“, “turismo esportivo e o mercado LGBT+“, “turismo LGBT+ em lugares não seguros” e “turismo LGBT+ em destinos nacionais“.

Todos os painelistas e mediadores foram pessoas LGBTQIAP+. Iniciar o evento com o painel de pessoas trans foi um salto de representatividade. A comunidade LGBTQIAP+ é o espaço de fala e acolhimento de diversas populações socialmente invisibilizadas. Fica a sugestão, para as próximas edições, de pensar melhor na participação de mais gêneros, etnias e pessoas com deficiência.

O Fórum de Turismo LGBT do Brasil é realizado pela Revista ViaG, a primeira publicação LGBT turística do país. O evento foi idealizado e é organizado por Alex Bernardes, que também assina como diretor comercial da Revista ViaG.

Como receber pessoas LGBT

No primeiro painel (turismo para pessoas trans), foram levantadas questões como a recepção de pessoas trans nos destinos turísticos e a transfobia velada, uma forma de agressão sutil que desaprova a existência das pessoas trans. A atriz Glamour Garcia, mulher trans, elevou a discussão lembrando que o setor do turismo já possui o preparo necessário e é simples saber como receber uma pessoa trans:

Todos sabem responder à pergunta ‘como receber uma pessoa?’. Até mesmo quando uma pessoa está se comportando de forma indevida, seja ela trans ou cisgênero, conhece-se o protocolo de como agir.

Glamour Garcia

Glamour também falou sobre o despreparo na hora de interagir com uma pessoa LGBT. Há quem não saiba como se dirigir a pessoas trans, por exemplo. A solução está sempre na comunicação honesta: pergunte à pessoa como ela prefere ser chamada.

Medidas de segurança para pessoas LGBT

No painel “turismo LGBT+ em lugares não seguros”, o painelista Marcelo Micheletto (Viaje Entre Iguais) relatou que orienta os clientes a seguirem algumas dicas em destinos perigosos, como Egito, Rússia Dubai e Marrocos. Algumas delas: não demonstrar afetividade, usar roupas discretas para não chamar atenção para si e hospedar-se em hotéis de grandes redes, que costumam ser mais seguros.

Porém, é importante compreender que a homofobia e a transfobia são um conjunto de crenças que estão profundamente enraizadas. Elas podem ficar mais evidentes em destinos declaradamente homofóbicos, mas não estão restritas a eles.

Violências sutis como olhares de desaprovação, recusa de atendimento e resistência em receber são presentes em todos os países. É papel nosso, enquanto sociedade, exercer o respeito com todas as pessoas. Uma lição básica de cidadania que o Fórum de Turismo LGBT exerce a missão transmitir.

*A última atualização da sigla, ainda mais inclusiva, é LGBTQIAP+. Utilizei a versão antiga LGBT para fins de leiturabilidade, mas estou aberta a discussão caso alguém não se sinta incluse.

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