A sucessão empresarial ocorre comumente em dois cenários. O primeiro deles acontece quando uma empresa adquire bens ou operação de outra, com a passagem de poder ou capital. Já a segunda, mais comum especialmente em empresas familiares, é a entrada de uma nova geração de líderes no comando da empresa. Negócios que passam de pai para filho, do filho ao neto, e se perpetuam ao longo dos anos.

E é neste cenário tão presente na economia brasileira que a necessidade de boas práticas de governança empresarial se intensificam. Afinal, empresas geradas pelas famílias empresárias precisam de um olhar muito atento às boas práticas, garantindo que a troca e o convívio tanto no âmbito empresarial quanto no familiar sejam bem-sucedidos. O desafio não é pequeno!

Existem necessidades comuns a este modelo de negócio, especialmente quando falamos em sucessão empresarial. O modelo dos três círculos da governança na empresa familiar, concebido por John Davis e Renato Tagiuri na década de 1970, continua relevante e atual. Ele exemplifica com clareza os desafios destes modelos de negócio e os fatores de risco para a perenidade das empresas.

Ele mostra como as três dimensões (família, propriedade e gestão) se fundem e como um processo desalinhando, sem clareza das demandas e das necessidades dos envolvidos em cada esfera pode gerar desentendimentos, tensões e disputas judiciais. Essas contendas podem, inclusive, se tornarem letais à empresa.

Apesar de muito buscada, a sucessão empresarial dos negócios familiares requer cuidados e nem sempre ocorre em um processo bem-sucedido. Pesquisas apontam, inclusive, que apenas 5% destes negócios chegam à segunda geração. Mais do que preparar herdeiros ou uma equipe profissional para assumir o negócio, este processo requer detalhamento da operação para garantir segurança jurídica para a empresa e os envolvidos. Boas práticas de gestão, alinhadas à segurança jurídica, são essenciais.

Importante salientar que, a despeito de todo o processo de formação dos novos líderes, há ainda uma série de decisões burocráticas a serem tomadas. E sem acompanhamento profissional, muitas delas podem resultar em danos financeiros à operação, comprometendo, inclusive, a continuidade do negócio.

Uma das iniciativas comuns ao longo da transferência de gestão é a criação de conselhos de administração, em que antigos gestores podem apoiar nas decisões para continuidade da operação, mantendo voz ativa na empresa da qual fazem parte. A definição dessa estrutura, quando bem desenvolvida, pode ser uma saída segura e essencial para o sucesso na perpetuação e na transição das lideranças.

Mais do que preparar gestores do ponto de vista técnico, cuidar da estruturação empresasrial para que haja segurança jurídica ao longo da tomada de decisão é fator crucial para que o negócio não faça parte das estatísticas ainda desanimadoras quando falamos de perpetuação e sucessão.

Boas práticas que devem estar em pauta

 

Recentemente o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa listou seis pontos essenciais para que os negócios sejam bem-sucedidos. Estes tópicos também são estratégicos para empresas familiares que visam uma sucessão empresarial de sucesso. São eles:

1 – Ética e integridade: o Brasil ocupa hoje o 108º lugar no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) criado pela ONG Transparência Internacional, que avalia 180 nações. O dado deixa claro que há um longo caminho a percorrer, a começar pela mudança de cultura nos negócios;

2 – Diversidade e inclusão: ambientes que fomentam a diversidade são mais criativos e produtivos. Ouvir as diferenças e necessidades variadas de um mercado em ebulição, adaptar a cultura organizacional para tornar uma marca empregadora ainda mais confiável, socialmente responsável e culturalmente respeitada é cada vez mais importante. No contexto da sucessão empresarial, entender as necessidades de cada membro e ouvir as contribuições para o fortalecimento do negócio deve fazer parte das iniciativas e da tomada de decisão;

3 – Responsabilidade ambiental e social: boas práticas de governança, inclusive as que focam no aproveitamento sustentável de recursos contribuem para a atratividade de investidores, que levam em conta cada vez mais os critérios de ESG – Environmental, Social and Governance;

4 – Inovação e transformação: a chegada de novas estruturas e modelos de trabalho impulsionou ainda mais a necessidade de investimentos em transformação digital e no fomento de uma cultura inovadora. Seja na oferta de produtos e serviços, seja na rotina de gestão, é fundamental trazer a inovação como uma decisão coerente e estruturada;

5 – Transparência e prestação de contas: a transparência é um pilar essencial do compliance. Deve ser embasada em orientação jurídica eficiente e levar em consideração todos os stakeholders da organização, incluindo todos os membros da família empresária;

6 – Conselhos do futuro: especialmente em negócios que visam o processo sucessório, a visão de futuro precisa estar na agenda da governança corporativa. É fundamental contar com conselheiros para a formação de novos líderes, porque são eles que irão ditar a adaptação da organização aos novos desafios e serão peças fundamentais para a perenidade do negócio.

Flávio Pinheiro Neto, é advogado empresarial do escritório Flávio Pinheiro Neto Advogados

Foto: Free-Photos/Pixabay

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