Amanhã (7/julho) será lançado o caminho religioso Nos Passos de Dom Viçoso, do Colégio do Caraça e Mariana, em Minas Gerais. Evento on-line marca o lançamento do percurso junto com a reedição de livro escrito em 1896 por Dom Silvério, afilhado do religioso, que conta a história de Dom Viçoso. A transmissão inicia às 15h no Facebook e YouTube.

O caminho religioso batizado com o nome Nos Passos de Dom Viçoso, é um trajeto de 88 km que pode ser percorrido a pé ou de bicicleta. Para o padre José Carlos dos Santos, diretor da Faculdade Dom Luciano Mendes e organizador da reedição do livro que conta a vida do Santo Bispo, a iniciativa posicionará a região como referência em peregrinação religiosa e será uma oportunidade para que turistas e moradores façam uma caminhada de fé.

O caminhante contará com vários marcos de quilometragem que já estão instalados e podem ser vistos a cada km, além de placas de sinalização. Por todo o percurso é possível encontrar oratórios que trazem mensagens baseadas nas virtudes de Dom Viçoso. Além dos marcos físicos instalados nas localidades, um website reúne desde a história de Dom Viçoso até as questões práticas, como pontos de apoio, hospedagens e dicas de segurança com avisos e recomendações.

Ponto de partida

Durante a peregrinação será possível pernoitar no Caraça, Catas Altas, Santa Rita Durão, Camargos e Mariana, fazendo trechos de caminhada dia a dia. Um trabalho de fomento à hospitalidade foi iniciado em Santa Rita Durão e Camargos para a preparação de acomodações familiares. Em todos os lugares, será possível saborear as quitandas típicas, a comidinha no fogão à lenha, e as sobremesas tradicionais de cada terra.

Trecho do caminho religioso. Foto: João Lucas Ferreira Basílio

O ponto de partida é o Santuário do Caraça, local onde funcionou o Colégio do Caraça, de 1820 até o grande incêndio em 1968. O trajeto passa por lugares icônicos e proporcionam, além de uma experiência única ao turista, uma oportunidade de absorver conhecimentos sobre aspectos importantes da história mineira.

Para o padre Luís Carlos, Superior do Caraça, além da divulgação dos feitos de Dom Viçoso, a iniciativa também vai contribuir para fomentar o potencial turístico em toda a região. “Creio que poderá reforçar a diversificação e o crescimento da economia nas cidades de Catas Altas e Mariana, favorecendo assim, a melhoria do atendimento nos estabelecimentos de hospitalidade e alimentação além de possibilitar o surgimento de outros empreendimentos que poderão estar associados à criação deste caminho e rota de turismo religioso”, avalia.

Aqueduto

Após a partida do local onde funcionou o colégio fundado por Dom Viçoso, a primeira parada, a pouco mais de 4 km, é para contemplar e se refrescar nas águas límpidas da Cachoeira Cascatona, ainda dentro da Reserva Particular do Patrimônio Natural do Santuário do Caraça. A trilha para chegar ao local é em meio à Mata Atlântica, o que proporciona ao peregrino caminhar respirando o ar puro e apreciando toda a beleza natural do local.

No km 12 do trajeto, o caminhante terá um encontro com a religiosidade ao visitar a Capela de Santana do Morro. Em seguida, no km 21,5, o contato com uma construção histórica de grande valor cultural, o Bicame de Pedra, construído por escravos por volta de 1892, que funcionou como um aqueduto que tinha como objetivo captar e conduzir a água da Serra do Caraça, até esta parte baixa da região, na localidade de Brumado, onde o ouro era extraído e lavado. Atualmente restam dele apenas cerca de 200 metros de pedras de quartzitos.

No km 28, a charmosa Catas Altas é o próximo destino. Reconhecida como cidade histórica e ecológica, é situada aos pés da Serra do Caraça e resguardada pelo contraforte da Serra do Espinhaço. Seguindo mais 2 km, mais uma parada para fortalecer a espiritualidade, desta vez no famoso Oratório São Judas Tadeu.

Ruínas

Ainda em Catas Altas, o caminhante passará pelo pequeno povoado do Morro D’ Água Quente, composto por ruas com muros feitos em Canga, casinhas simples e tradicionalmente mineiras. O contato com a natureza é garantido na Trilha Chapada do Canga, que levará o caminhante até a próxima parada do trajeto.

No km 46, Santa Rita Durão, distrito de Mariana, permite encher os olhos com belezas da história mineira e grandes paisagens naturais. Logo em seguida, o turista passará pelas ruínas do que um dia foi um povoado feliz e cercado de belezas naturais:  o subdistrito de Bento Rodrigues, que contava com duzentas casas e 620 habitantes até 5 de novembro de 2015, quando a localidade foi devastada em consequência do rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração de ferro, no Rio Gualaxo do Norte.

Passado o momento de reflexão sobre o impacto da mineração para o meio ambiente e as vidas humanas, outra oportunidade de conhecer um pouco mais da história. No km 64 da caminhada, o distrito de Camargos, também em Mariana, com 76 domicílios particulares, foi fundado em 1711 por um grupo de paulistas e vicentinos, do qual faziam parte José de Camargo Pimentel, alcaide-mor de São Vicente e São Paulo, junto com seus primos João Lopes de Camargo, Thomaz Lopes de Camargo e Gonçalo Lopes de Camargo. Se o turista quiser visitar as ruínas históricas, basta desviar a rota por apenas 3 km.

Cartuxa. Foto: João Lucas Ferreira Basílio

Entre Camargos e Mariana, um motivo para aproveitar o clima das montanhas e degustar a típica comida mineira é na Fazenda da Palha, ainda no distrito de Camargos. Depois, o museu a céu aberto de Mariana é um convite para conhecer uma pouco mais da história de Minas Gerais e do Brasil, com as suas construções e igrejas charmosas, além da oportunidade de visitar o túmulo de Dom Viçoso, que se encontra na cripta da Catedral Basílica de Mariana. E por fim, o ponto final da caminhada é na Cartuxa de Dom Viçoso, casa simples onde o religioso se recolhia e teve o fim da sua vida em 7 de julho de 1875, cuja cama onde seu corpo foi encontrado se encontra preservada.

A vida de Dom Viçoso

A história de Dom Viçoso começou em Peniche, cidade no Litoral de Portugal, onde, em 13 de maio de 1787, nasceu o menino Antônio Ferreira Viçoso. Em 1818, foi ordenado padre na Congregação da Missão e chegou ao Brasil no ano seguinte, com 32 anos de idade, como missionário, juntamente com o padre Leandro Rabelo, para atuar em Jacuecanga, no Rio de Janeiro.

Em seguida, os missionários foram designados para Igreja de Santa Mãe dos Homens, no Caraça, aonde os Missionários chegaram em 15 de abril de 1820.  Lá, fundaram o tradicional Colégio do Caraça que se tornou referência em educação no Brasil, visitado pelos Imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II e por onde passaram cerca de onze mil alunos, dentre nomes ilustres da política regional e nacional, com ex-presidentes, deputados e governadores, com destaque a Afonso Augusto Moreira Pena, Antônio Augusto de Lima, Antônio Benedito Valadares Ribeiro, Arthur da Silva Bernardes, Astolfo Dutra Nicácio, Olegário Dias Maciel, entre outros.

Em 1822, por ordem de D. Pedro I, o então padre Viçoso retorna para Jacuecanga, no Rio de Janeiro, como Reitor do Seminário da Santíssima Trindade. Ficou até 1837 e saiu para voltar ao Caraça como Diretor do Colégio e eleito para o cargo de Superior Geral da Congregação da Missão no Brasil. Com o passar dos anos, as responsabilidades foram aumentando cada vez mais e, em 1844, Dom Pedro II o nomeou como Bispo da Sé Catedral de Mariana, onde se destacou como “Defensor da Igreja”, “Reformador do Clero” e “Santificador do Povo Cristão”.

O religioso era contra a escravidão e um fato que ficou marcado na história foi quando recebeu, no Seminário de Mariana, um ex-escravo, mais tarde ordenado sacerdote a agora reconhecido como beato pela Igreja, o padre Vitor de Campanha. Foi o primeiro padre ex-escravo do Brasil.

“A humildade era uma característica marcante de Dom Viçoso. Sempre que possível, preferia recolher-se na simplicidade de sua ‘Cartuxa’, casa modesta, no alto de uma montanha em Mariana, do que alojar-se no Palácio Episcopal. Em sua morada, rezou, abençoou, escreveu, ordenou sacerdotes e sobretudo amou a sua Diocese e o seu povo”, diz o cônego Nedson Pereira de Assis, Pároco da Catedral de Mariana e responsável pela Cartuxa.

Dom Viçoso faleceu em 7 de julho de 1875 na humildade de sua cama na Cartuxa, que segue preservada até hoje. O povo já reconhecia em Dom Viçoso as virtudes de um Santo e assim o considerava em vida pelo seu modo de ser, de viver, por sua piedade, por sua humildade, por sua caridade.

Livro

Escrito pelo padre Silvério em 1896, o livro “Vida de Dom Antônio Ferreira Viçoso, Bispo de Mariana e Conde da Conceição” tem nova edição e podem ser encomendados neste e-mail.

Fonte: Assessoria de Imprensa

A foto que abre a matéria é de João Lucas Ferreira Basílio

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