Se você já passou dos 50 anos e tem boa memória, é bem provável que se recorde de uma frase que marcou época em 1987 quando foi ao ar o inesquecível comercial da Valisère: O primeiro sutiã a gente nunca esquece. A campanha, criada pela agência de publicidade W/GGK (que depois virou W/Brasil), além de ajudar as vendas do produto da Valisère, ganhou o Leão de Ouro no consagrado Festival Internacional de Cannes daquele ano e se tornou um ícone da indústria da publicidade brasileira. Pois bem: parafraseando a campanha da Valisère, posso dizer também que o primeiro avião a gente nunca esquece. Por esse motivo dedico a coluna de hoje ao EMB120 Brasilia, primeiro avião comercial que tive o prazer e o privilégio de pilotar em meu primeiro emprego como copiloto de linha aérea, de 1998 a 2000, na antiga InterBrasil Star, companhia aérea regional da extinta Transbrasil.

Este fantástico e moderno (para a época) turboélice para 30 passageiros, fabricado pela Embraer entre 1983 e 2001, continua bastante ativo em companhias aéreas no Caribe e na África.

Praticamente toda semana a EPA Training Center, onde trabalho como instrutor de simulador desta aeronave em Curitiba, recebe pilotos para seus treinamentos iniciais, quando o piloto irá aprender a pilotar o avião, ou para treinamentos recorrentes, quando os pilotos retornam anualmente ao simulador para rever os procedimentos de emergência.

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O Brasilia (assim mesmo, sem acento), avião turboélice pressurizado, pode voar até 32 mil pés de altitude e com uma velocidade bastante elevada em se tratando de um turboélice: 584 km/h. Como comparação, o mais recente modelo do turboélice ATR, o 72/600 é limitado a 25 mil pés e atinge o máximo de 511 km/h.

Ao longo de sua história foram produzidas 352 unidades e centenas delas ainda voam em dezenas de países mundo afora.

Abaixo podemos ver a festa para comemorar o primeiro voo do EMB120 Brasilia, na fábrica da Embraer, em São José dos Campos, em 29 de julho de 1983.

Outra curiosidade sobre este incrível avião foi o uso do EFIS (Electronic Flight Instrument System) em seu painel de instrumentos (naquele ano, apenas o Boeing 767, lançado dois anos antes, possuía o EFIS em seu painel).

Repare na foto do cockpit abaixo, as 4 telas (2 do comandante e 2 do copiloto) do EFIS. Um show de tecnologia da Embraer. Nem um imenso Boeing 747 tinha EFIS naquele ano!

No Brasil, o primeiro operador do Brasilia foi a antiga Rio Sul, em 1988. Além de ter voado pela Interbrasil e Rio Sul, ele também voou pelas companhias Meta, Rico, OceanAir, Pantanal, Nordeste, Penta, Tavaj, KMW – Táxi Aéreo, America Air, Trip Linhas Aéreas e Sete Linhas Aéreas. Atualmente ainda voa regularmente na FAB (Força Aérea Brasileira).

Acho uma pena que a Embraer optou por abandonar esse produto ao invés de modernizá-lo, com motores mais potentes, econômicos e silenciosos. Não é à toa que o ATR nada de braçada em nosso mercado de aviação regional, voando pela Azul, VoePass, MAP e Total.

Nosso país, contando com a quinta maior extensão territorial do planeta e o sexto maior em população, merecia uma versão atualizada do EMB120 Brasilia para atender parte dos 5.370 municípios que não contam com transporte aéreo de passageiros. Alô, Embraer, pensa nisso!

Bom voo e até o próximo encontro.

Sady Bordin tem 58 anos.  Trabalhou como piloto de linha aérea por 12 anos, sendo 5 como comandante de Embraer 190/195 na Azul Linhas Aéreas. Tem mais de 7 mil horas de voo.  É instrutor de simulador na EPA Training Center. sady@embraer195.com.br

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