E lá se vão 14 anos de uma bela história de inovação e sucesso. Foi no dia 15 de dezembro de 2008 que decolou o Embraer 190 PR-AZL (foto abaixo, pousando no Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro) da Azul Linhas Aéreas para fazer o voo inaugural, AD4064, partindo de Campinas, com 98 passageiros a bordo, com destino a Salvador.

A decisão da Azul por voar com os excelentes E-Jets (como são carinhosamente conhecidos os modelos 170, 175, 190 e 195 da Embraer) e a escolha por fazer seu principal HUB em Campinas se mostrou um tremendo sucesso. Em agosto de 2009, contando com apenas 8 meses de operação, a empresa atingiu a impressionante marca de 1 milhão de passageiros transportados. Um recorde mundial para uma companhia aérea recém-criada. Na época ela já contava com 12 aviões entre os modelos Embraer 190 e 195. Não custa lembrar que foi a Azul que iniciou a operação dos E-Jets no país. A Trip também operou os E-Jets no Brasil, inicialmente com o modelo 175 e depois com o 190. O primeiro voo da Trip com o E-Jet foi em 15 de junho de 2009.

O crescimento da Azul foi surreal. Em 3 anos ela alcançava a marca de 12 milhões de passageiros transportados. Incrível!

Claro que vários diferenciais ajudaram a Azul a decolar no mercado brasileiro.

Primeiro, uma malha abrangente e um HUB em Campinas (foto abaixo), ligando praticamente todas as capitais com várias frequências diárias. Para se ter uma ideia, apenas para Curitiba a Azul tinha 11 frequências diárias.

 

Outra inovação na aviação brasileira foi a tv ao vivo com telas individuais e várias opções de canais (foto abaixo). Nem os jogos da Copa ficaram de fora. Foram transmitidos, ao vivo, durante os voos. Até hoje, poucas companhias aéreas oferecem essa sofisticação.

Bebidas e snacks à vontade fazem parte da história da Azul.

Mas o que pouca gente conhece é a interessante e inusitada história do surgimento da Azul.

Podemos até mesmo afirmar que a história por trás do nascimento da Azul está diretamente ligada ao anúncio da compra de 20 aeronaves Embraer 195 pela BRA Transportes Aéreos feita em 20 de junho de 2007. O contrato oficial da compra das aeronaves (foto abaixo) foi assinado na sede da Embraer, em São José dos Campos, em 22 de agosto de 2007, com a presença dos presidentes (da esquerda para a direita) da BRA (Humberto Folegatti), do Brasil (Lula) e da Embraer (Frederico Curado).

Ok! Mas o que tem a ver essa compra dos jatos Embraer pela BRA com o nascimento da Azul? Bom, se você tiver paciência de continuar lendo, vai entender em seguida. Garanto que a história é para lá de curiosa e muito interessante.

Infelizmente a BRA era uma empresa muito pequena (tinha apenas 4,6% do mercado) e seu sonho de voar alto não durou muito tempo. Em 6 de novembro, menos de 3 meses após a pomposa solenidade de assinatura do contrato de compra dos 20 E-Jets, a empresa anuncia a suspensão de todos os seus voos.

CONHEÇA: Os 10 aeroportos que desafiam os pilotos

Importante lembrar que no final de 2006 a Brazil Air Partners – fundo constituído pelo Bank of America, Gávea Investimentos (do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga), Development Capital, Goldman Sachs, HBK Investment e Millenium Americas – compraram 72% das ações preferenciais da BRA por R$ 180 milhões.

Pois bem: os sócios americanos, preocupados com o destino de seu investimento, resolveram ligar para um sujeito nascido no Brasil, filhos de americanos e que entendia muito do negócio de transportes aéreos, pois havia fundado a JetBlue nos Estados Unidos. Chegando ao Brasil, no final de 2006, ele estudou o mercado e deu a ideia de usar os aviões encomendados pela BRA para criar uma nova companhia aérea. Esse sujeito, que viria a ser o fundador da Azul, chama-se David Neeleman (foto abaixo).

Claro que estou resumindo a história, senão daria um artigo somente para contar todos os bastidores desta incrível empreitada.

Mas, falemos agora da escolha do nome Azul.

Em março de 2008 foi lançada uma campanha para que as pessoas escolhessem o nome da nova companhia, dando sua sugestão no site voceescolhe.com.br. 135 mil pessoas participaram da campanha e foi aberta uma votação para a escolha entre os 10 nomes mais sugeridos.

Finalmente, após a votação para a escolha dos nomes, restaram Samba e Azul. Como você deve ter imaginado, a escolha recaiu sobre o nome Azul.

A partir do primeiro voo em 15 de dezembro de 2008, a empresa não parou mais de crescer. Na mesma época, outra companhia crescia também a passos largos, usando os mesmos aviões que a Azul: os E-Jets e os turboélice ATR. Essa empresa era a Trip. As duas tinham o mesmo tamanho à época, cada qual com mais ou menos 60 aeronaves, entre jatos e turboélices. A Trip era mais forte no Interior do país, ao passo que a Azul era mais atuante nas rotas de alta densidade. Era claro que havia uma sinergia nestas operações. E não faria o menor sentido entrar numa guerra comercial, que seria predatória para ambas as empresas. A união era evidente. Azul e Trip resolveram unir forças e anunciam o casamento. Em 28 de maio de 2012 sai o anúncio oficial da fusão entre as companhias. Na foto abaixo, José Mario Caprioli e David Neeleman, presidentes da Trip e Azul respectivamente, durante entrevista para explicar a fusão.

A nova empresa nasce com 112 aeronaves, 96 destinos, 8,7 mil colaborares e 15% do mercado, firmando-se como a terceira maior empresa aérea do país.

Posso dizer que fui um observador privilegiado dessa fusão, pois em 2012 eu era copiloto de E-Jet 175 na Trip. Na foto abaixo, no cockpit do 175, no Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, ao lado de outro E-Jet da Trip.

A fusão, apesar de ter sido uma decisão acertada, foi um pesadelo operacional e de Recursos Humanos para as duas empresas, pois Azul e Trip tinham políticas operacionais e de remuneração completamente diferentes. Além de duas culturas muito distintas. Apesar de terem aviões “iguais”, os procedimentos eram específicos para cada empresa e isso acarretava uma dor de cabeça para a escala de voo dos tripulantes, pois um piloto da Trip não podia operar uma aeronave da Azul e vice-versa. A solução foi transferir aos poucos os pilotos da Trip para a Azul e treiná-los de acordo com a operação da Azul.

Fui transferido para a Azul ainda em 2012, como copiloto, e em 2014 fui promovido a comandante. Uma das várias coisas legais na Azul é a festa de formatura dos novos comandantes. Abaixo, foto tirada na formatura de 8 de dezembro de 2014, quando fui oficialmente promovido à comandante de Embraer 195, ao lado do fundador da empresa, David Neeleman (esquerda), e deu meu pai Sady.

Como tem muita história pela frente, vou deixar para falar dos aviões que compõe a atual frota da Azul no próximo artigo.

Bom voo e até o próximo encontro.

Sady Bordin tem 58 anos.  Trabalhou como piloto de linha aérea por 12 anos, sendo 5 como comandante de Embraer 190/195 na Azul Linhas Aéreas. Tem mais de 7 mil horas de voo.  É instrutor de simulador na EPA Training Center. sady@embraer195.com.br

 

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