Diz a lenda que Santo Antônio (1195-1231) já estava desiludido em pregar aos hereges da cidade que não o ouviam e foi junto à foz do rio e começou a pregar aos peixes. Os peixes prontamente atenderam ao pedido do Santo e logo se juntaram diante dele. Uma multidão mantinha a cabeça fora da água para ouvi-lo.
Vieira (1608-1697) diz que ao invés de retirar-se, calar-se ou ainda dissimular o discurso, o importante foi não se render ou desistir da doutrina, devendo somente mudar o público e o auditório.
Redescoberto recentemente pelo grande público, leitura obrigatória para alguns dos vestibulares mais concorridos do país, o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, do Padre Antônio Vieira,é um dos escritos de maior relevância produzidos por Vieira. Para quem já conhece sua obra sabe o quão riquíssimo são os detalhes e clareza de ideias, mantendo-se atuais apesar dos anos de diferença. Para os não religiosos, os sermões são pequenos textos recheados de ensinamentos e analogias que valem a análise e conhecimento.
O texto do Padre Antonio Vieira explora a alegoria dos peixes para apontar virtudes e defeitos das pessoas assim como criticar a exploração humana verificada na sociedade da época.
Ainda, não se deve ignorar o caráter visionário desse sermão: utilizando-se de metáforas, o autor criticou impiedosamente a corrupção vigente no Brasil. Proclamado “Imperador da língua portuguesa” pelo poeta Fernando Pessoa, e definido como “estupendo artista da palavra” por Alfredo Bosi, Antônio Vieira é uma dessas figuras singulares de nossa história. Dono de uma inteligência impressionante, o padre foi um exímio observador dos costumes de sua época. Sermão de Santo Antônio aos Peixes pela Editora do Chain tem preço sugerido de R$ 7,50.
Amanda Chain
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Publicado no Aeroporto Jornal – julho/2016