Domingo, 25 de abril, foi o dia do símbolo vermelho na Itália. Dia da libertação e aniversário da resistência tem como o hino a música Bella Ciao.  Em 1946, nesta data, foi o dia em que a Itália se libertou do governo fascista e a ocupação nazista. Um fato marcante, que entrou para história e que marca o início, desta vez amarelo. Juntamente com este dia lembramos de um novo início, desta vez com a faixa amarela. A partir de ontem, 26 de abril, a Itália está quase toda em zona amarela, o que significa a reabertura do comércio, museus, escolas e inclusive a circulação entre as regiões.

Um novo ciclo e uma flexibilização depois de quase três meses em lockdown. A reabertura é aos poucos, sempre com distanciamento e respeitando todas as medidas sanitárias. Os restaurantes que têm a possibilidade de ter mesas na áreas externas já podem abrir para o almoço e jantar.

A pandemia abalou todo o mundo, emocional, psicológica e financeiramente. A reabertura e as vacinações marcam a esperança de uma luz do fim do túnel que vai abrir também o turismo, uma área muito prejudicada em todo este período.

No ano passado, no início da pandemia, se falava em quinze dias de lockdown. Fiz um vídeo, mesmo sabendo que os quinze dias seriam sempre adiados. Neste vídeo, vocês conseguem entender o dia a dia italiano, das senhoras que passam entre açougues, mercearias, confeitarias e relata as novas regras, uma delas é a de que não podemos mais tomar um café juntos. Neste sentido, essa regra vai continuar por um tempo, mas jamais imaginaríamos ficar em casa por quase um ano. Assista este vídeo.

Passados dois meses, em conjunto com os moradores da Costa Amalfitana, traduzi uma poesia italiana que descreve os momentos que vivenciamos aqui: entre as ruas vazias e a ânsia de voltar a receber turistas aqui.

Texto de Mário Amodio. tradução Priscilla Santos da Silva:

Costa amalfitana em tempos de Covid-19

“Apreciamos o silêncio de todo esse caos. Que reinou em todos os lugares.

Esse silêncio basicamente nos ensinou a valorizar um grande presente: o respirar.

‘Tempo e paciência são os maiores atributos de todos os guerreiros’, disse Tolstoi.

E nessa faixa de terra, aceitar aquele clima surreal que reinou por cerca de dois meses foi um pouco como lutar contra o tempo, marcada pelo badalar dos sinos.

Ver a costa imóvel e silenciosa foi um golpe no coração.

Quem nunca vai esquecer o silêncio ensurdecedor na noite de Sexta-Feira Santa. Um silêncio anômalo. Embaraçoso. Tudo ficou em silêncio. Não apenas ao anoitecer.

A ressaca do mar que lava esta faixa de terra nunca amorteceu o tom de seu movimento perpétuo.

Nem mesmo naquela noite, sem luz, sem vermelho, chamas. Tudo parou.

Mesmo que a raiva por aqueles que não estão mais aqui ou por aqueles que lutam ferozmente contra esse inimigo invisível, às vezes possa superar a dor de vê-lo extinto.

A Costa Amalfitana na época do coronavírus se transformou em um lugar fantasma. Bem aqui onde o turismo sempre foi a principal fonte de renda.

Por quase dois meses e ainda hoje.

Praias desertas, onde os únicos “hóspedes” agora são gaivotas satisfeitas empoleiradas na costa.

As praças desoladas e vazias.

Aquela faixa de asfalto, antes afogada por milhares de carros, agora está incrivelmente vazia.

A natureza recuperou em um instante o que não fomos capazes de defender o suficiente nos últimos anos.

Agora, a palavra de ordem é: começar de novo.

Com confiança renovada, apesar das dificuldades que também decorrerão desta emergência. Temos que acreditar!

Para redescobrir o que é exigido como um dever: a busca da felicidade.

Até agora pensamos, lembramos, imaginamos, criamos, no tempo que esse inimigo furtivo, em certo sentido, nos deu.

Mas assim que tudo acabar, teremos apenas um grande dever diante de nós: o de abrir um caminho, finalmente um novo caminho”.

O vídeo e o texto são de maio de 2020, mas vale agora e para estes próximos meses, para a Costa Amalfitana e o mundo. A vacina é uma esperança.

Agora nasce uma nova fase que iremos escrever e que ao certo não sabemos como será. Uma semana de inícios, uma semana amarela que ilumina e traz aquela luz para as reaberturas das fronteiras internacionais.

Priscilla Santos da Silva, é uma brasileira que mora em Na Costa Amalfitana, no sul da Itália, formada em Relações Internacionais e mestranda em Diplomacia que atua no turismo há mais de oito anos prestando serviços na área governamental e privada. @estudantenomade @acostaamalfitana

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