Sibele Tozim já foi personagem do Aeroporto Jornal quando na edição de março de 2015 relatou sua viagem de Curitiba a Ushuaia, na Argentina, de moto. Foram 13.639 km numa moto Harley-Davidson Softail Deluxe, que fez em companhia com Eliane Mann (numa BMW GS650) e Marcelo Biguetti (que dirigiu uma BMW F 800GS). Agora, ela que pilota anos, enfrentou novo desafio, um tour na Transamazônica.

Ela disse que não queria fazer essa viagem porque se sentia insegura e por saber o que iria enfrentar: “Estrada de chão, talvez barro porque viajaríamos na época quando as chuvas começavam”. Sibele falou com o responsável pelo grupo que disse que ela “conseguiria ir de boa”. Confessa que “ele não me convenceu muito, mas me arrisquei”.

Aqui, o relato dessa viagem:

Chegamos a Santarém dia 22 de setembro, uma terça, e fomo direto para Alter do Chão, um paraíso à beira do rio Tapajós, no Pará.

Éramos quatorze homens, eu e uma senhora com seus 63 anos que viveu 41 anos em cima de motocicletas.

Barco no Tapajós

Passamos a tarde e o dia seguinte em Alter do Chão (foto ao lado). Fizemos passeio de barco o dia todo pelo Tapajós, que é uma maravilha, água limpinha e com extensão de 30 km de largura. Muitos banhos e almoço com peixe pelas praias de Pindobal e Ponta de Cururu. Foi um dia maravilhoso na água.

Mas o primeiro dia de moto me esperava…..

Acordei cedo ansiosa pela viagem.

Fui ver as motos, peguei uma Honda XRE 300 e começamos a viagem por uma estrada pequena de chão. Até então, tudo beleza mas, de repente, começa um areão e a moto passou a dançar para todos os lados comigo tentando dominá-la. Foi difícil. Rodamos uns 20 km e chegamos numa cidade chamada Belterra e depois mais uns 100 km de asfalto.

Depois, estrada de chão, às vezes boas e outras muito ruins. Eu troquei de moto peguei uma menor, Crosser  125, que era melhor para andar e foi assim por um bom tempo… chão duro, chão de areia fininha, chão atoleiro, carros passando pela gente sem se importar: não desviavam, tocavam em cima e se você não sair pra lama, está ferrado. Sem contar caminhão pelo caminho atolado.

Terra vermelha

O trecho tinha um visual bem fascinante da floresta que pouco dava para ver por que eu tinha que ficar ligada na estrada. Na hora que me juntava ao grupo aproveitava ver a paisagem. Passarinhos e as araras acompanhavam a gente sempre em pares.

Depois de uns 300 km chegamos na balsa que nos levaria ao outro lado da cidade de Itaituba. Muitos carros e caminhões e motos na balsa. Chão sempre de terra vermelha daquela que te deixa muito suja no corpo inteiro.

Descansamos e segundo dia já estava começando: destino Jacareacanga.

Partimos cedo porque tínhamos que avançar mais de 300 km em estrada de chão. Tinha chovido na noite anterior, então a estrada estava um lamaceiro só.

Povo de olhares baixos

Muito difícil andar em atoleiros altos numa estrada estreita sem acostamento e cheia de carros e caminhões indo e vindo sem ter o mínimo de respeito com a gente. Todo tipo de piso pela frente. Descidas muito íngremes que parecia que a moto iria virar e as subidas também muito altas, mais pelo menos essas não tinham atoleiros. Muita reta pela frente.

Pelo caminho poucas pessoas, poucas aldeias de índios que hoje já são comunidades. Um povo pacato quieto com olhares baixos aparentando sempre estarem com medo. Alguns bichos passavam pela estrada, vacas, cabritos, cachorros.

E seguíamos na poeira. Muitas vezes não dava para enxergar nada quando um carro passava em qualquer sentido. Nessas ocasiões, dava um tempinho na aceleração para poder ver a estrada.

Paramos para almoçar em Apuí, já no Amazonas, pequena cidade cheia de mangueira. Almoçamos embaixo delas uma refeição bem simples.

Continuamos pela nossa jornada de lama e poeira e mata verde pelo caminho. Pôr do sol lindo tem por lá.

Pôr do sol

Chegamos no final da tarde. E um aviso: andamos só um pouco de noite porque é perigoso andar pela Transamazônica sem a luz do sol. Jantamos e fomos descansar para o próxima jornada.

Agora o destino seria Santo Antônio do Matupi a 500 km de onde estávamos.

Adivinha só a estrada: mais poeira e atoleiros. Foi uma repetição de tudo. Estresse direto. Várias vezes pensei “o que eu tô fazendo aqui”… mas na maior parte do percurso eu curti muito.

Passamos por garimpos, vimos aviões pequenos no transporte de garimpeiros.

Ouro

Almoçamos em um restaurante de garimpo. Têm muitos garimpeiros pela região. Passamos e paramos por outra casa que tinha umas mulheres de vida de moral distraída. Alguns do grupo compraram grama de ouro, uma Coca-Cola e seguimos viagem.

E a estrada não terminava nunca. Subidas, descidas, retas, pontes. Ah!, as pontes acho que foram no total umas quarenta, todas com enormes buracos na entrada e na saída também. Um perigo! Eu mirava na tábua do meio do lado direito e nem olhava para o rio… rsrsrs.

Chegando na cidade final da tarde, cansada, suja e de saco cheio de tanta poeira e buracos.

A principal rua da cidade era cheia de buracos. Sabe por quê? Para a população não correr demais e levantar poeira…. pode isso? Pra acabar!!!!

Último dia

Partimos e minha moto não pegou. Gasolina de primeiro mundo faz ela não pegar. Uma maravilha. Mas com um três empurrões pegou e seguimos viagem para… mais buracos, poeira etc.

Foram mais 300 km de caminhos atolados, andando a 20 km/k para não cair. A galera toda se segurando. Uns andando de boa e outros não tão de boa assim….

De repente um caminhão bitrem tombado do lado e tudo parado na estrada com muita lama debaixo de todos, inclusive de mim que pedi ajuda para um amigo levar a moto pelo lado já que a estrada estava quase toda interrompida pelos carros esperando para passar.

Algumas fotos depois, chegamos na balsa que levava a Humaitá.

Almoçamos no posto e para minha sorte acabou o barro e começou o asfalto. Eram 200 km até Porto Velho, a capital de Rondônia. Chegamos bem sujos, cansados, mas felizes: tínhamos conseguido fazer a Transamazônica.

Alma lavada

Minha conclusão: não sirvo para estrada de chão.

Dois dentes quebrados (não, eu não cai de moto) com castanha do Pará, sola da minha bota perdida nos trancos que tomei, bolha na mão direita e eu consegui vencer todas as vezes que a estrada tentou me derrubar.

Corpo cansado mas alma lavada. Foram mais de 1,6 mil km.

Andar de moto para mim e tudo!

Essa já era… agora já pensando em outro desafio.

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