A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata – International Air Transport Association) que representa cerca de 290 companhias aéreas, que correspondem a 82% do território aéreo global, divulgou uma previsão global atualizada do transporte de passageiros, mostrando que a recuperação do tráfego está mais lenta do que o esperado.
No cenário utilizado como base:
• O tráfego global de passageiros (medido em passageiros-quilômetros pagos transportados, ou RPKs) não retornará aos níveis anteriores à Covid-19 antes de 2024 – um ano após a projeção divulgada anteriormente.
• A recuperação deve ser mais rápida nas viagens de curta distância do que nas viagens de longa distância. Com isso, o número de passageiros deve se recuperar mais rápido que o tráfego medido em RPKs. O retorno aos níveis anteriores à Covid-19 também levará mais um ano: previsto para 2023 – anteriormente, a previsão era para 2022. Para 2020, o número global de passageiros (número de embarques) deve diminuir 55% em relação a 2019, previsão ainda pior em relação aos 46% em abril.
O tráfego de passageiros do mês passado indica uma recuperação mais lenta que o esperado. Medido em RPK, o tráfego caiu 86,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, uma pequena melhora em relação a queda de 91% registrada em maio, resultado da crescente demanda nos mercados domésticos, principalmente na China. A taxa de ocupação de junho apresentou queda recorde para o mês de 57,6%.
A perspectiva mais pessimista de recuperação está baseada em várias tendências recentes:
• Demora para conter o vírus nos Estados Unidos e economias em desenvolvimento:
Mesmo com a contenção do vírus em economias desenvolvidas fora dos Estados Unidos, ocorreram novos surtos, inclusive na China. Além disso, há poucos sinais de contenção de vírus em muitas economias emergentes importantes, que combinadas aos Estados Unidos, representam cerca de 40% dos mercados de viagens aéreas globais. O fechamento contínuo dessas fronteiras, particularmente para viagens internacionais, é um obstáculo significativo para a recuperação.
• Redução das viagens corporativas:
Os orçamentos de viagens corporativas estão muito limitados, pois as empresas continuam sob pressão financeira, mesmo com a economia melhorando. Além disso, embora historicamente o crescimento do PIB e as viagens aéreas tenham apresentado forte ligação, as pesquisas sugerem que esse vínculo se enfraqueceu, principalmente no que diz respeito às viagens de negócios, pois a videoconferência parece ter feito avanços significativos como substituto das reuniões presenciais.
• Fraca confiança do consumidor:
Embora as pessoas estejam ansiosas para visitar amigos e parentes e fazer viagens de lazer, a confiança do consumidor enfraqueceu diante das preocupações com seu emprego e o aumento do desemprego, além dos riscos de contrair a Covid-19. Cerca de 55% dos entrevistados na pesquisa de passageiros da Iata realizada em junho não planejam viajar em 2020.
Devido a esses fatores, a previsão revisada da Iata mostra que o número de embarques globais deve cair 55% em 2020 em relação a 2019 (a previsão de abril indicava queda de 46%). O número de passageiros deve aumentar 62% em 2021 em relação a 2020, mas ainda deve representar queda de quase 30% em relação a 2019. A recuperação completa nos níveis de 2019 não deve ocorrer antes de 2023, um ano depois do previsto anteriormente.
Enquanto isso, como os mercados domésticos estão abrindo antes dos mercados internacionais e como os passageiros preferem viagens de curta distância no ambiente atual, os RPKs devem se recuperar com mais lentidão, atingindo o nível de 2019 de tráfego de passageiros somente em 2024, um ano depois do previsto. Os avanços científicos no combate a Covid-19, incluindo o desenvolvimento de uma vacina eficaz, podem promover uma recuperação mais rápida. Porém, neste momento, parece haver mais riscos negativos do que positivos em relação à previsão inicial.
“O tráfego de passageiros atingiu a pior taxa em abril, e a recuperação está muito fraca. A melhora que vimos foi nos voos domésticos. Os mercados internacionais continuam em grande parte fechados. A confiança do consumidor está em baixa e, para piorar, o Reino Unido decidiu no fim de semana impor a quarentena geral a todos os viajantes que retornam da Espanha. E em muitas partes do mundo os novos casos de infecção ainda estão aumentando. Tudo isso indica um período de recuperação mais longo e mais sofrimento para o setor e a economia global”, disse Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da Iata.
“Para as companhias aéreas, essas notícias são ruins e indicam que os governos devem continuar com a ajuda financeira entre outras. Por exemplo, a isenção de penalidade das regras de slot para a temporada de inverno no Hemisfério Norte seria de grande ajuda para as companhias aéreas no planejamento de malha em meio à demanda imprevisível. As companhias aéreas estão planejando sua malha e precisam manter seu foco para atender à demanda e não em cumprir regras de slots que nunca foram flexibilizadas para as oscilações em meio à crise. Quanto antes soubermos sobre as regras de slot, melhor, mas ainda aguardamos respostas dos governos em mercados importantes”, disse de Juniac.
Mercado internacional de transporte aéreo de passageiros
O tráfego internacional de junho caiu 96,8% em relação a junho de 2019, uma pequena melhora em relação à queda de 98,3% registrada em maio. A capacidade caiu 93,2% e a taxa de ocupação teve queda de 44,7 pontos percentuais, atingindo 38,9%.
As companhias aéreas da região Ásia-Pacífico registraram queda de 97,1% no tráfego de junho em relação ao mesmo período do ano passado, uma pequena melhora em relação à retração de 98,1% registrada em maio. A capacidade caiu 93,4% e a taxa de ocupação teve queda de 45,8 pontos percentuais, atingindo 35,6%.
As companhias aéreas da Europa apresentaram queda de 96,7% no tráfego de junho de 2020 em relação a junho do ano passado, um pouco melhor que a redução de 98,7% registrada em maio. A capacidade caiu 94,4% e a taxa de ocupação diminuiu 35,7 pontos percentuais, atingindo 52,0%.
As companhias aéreas do Oriente Médio relataram queda de 96,1% no tráfego de junho em relação ao mesmo período de 2019, resultado pouco melhor que a queda de 97,7% registrada em maio. A capacidade caiu 91,1% e a taxa de ocupação teve queda de 43,1% pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo 33,3%.
As companhias aéreas da América do Norte apresentaram queda de 97,2% na demanda de junho, pouco melhor que a queda de 98,3% registrada em maio. A capacidade caiu 92.8% e a taxa de ocupação diminuiu 53,8 pontos percentuais, atingindo 34,1%.
As companhias aéreas da América Latina apresentaram queda de 96,6% na demanda de junho em relação ao mesmo mês do ano passado, um pouco melhor que a queda de 98,1% registrada em maio. A capacidade caiu 95.7% e a taxa de ocupação diminuiu 17,7 pontos percentuais, atingindo 66,2%, a maior entre todas as regiões.
As companhias aéreas da África reportaram uma redução de 98,1% no tráfego de junho, quase sem alteração em relação à queda de 98,6% registrada em maio. A capacidade caiu 84.5% e a taxa de ocupação teve queda de 62,1 pontos percentuais, atingindo apenas 8,9% de assentos ocupados, a menor taxa entre todas as regiões.
Mercados domésticos de transporte aéreo de passageiros
A demanda por tráfego doméstico, informa a Iata, caiu 67,6% em junho, resultado melhor em relação à queda de 78,4% registrada em maio. A capacidade diminuiu 55,9% e a taxa de ocupação caiu 22,8 pontos percentuais, atingindo 62,9%.
As companhias aéreas da China continuaram liderando a recuperação, com queda de 35,5% no tráfego de junho em relação ao mesmo período do ano anterior, resultado melhor frente a queda de 46,3% registrada em maio.
A demanda doméstica das companhias aéreas do Japão melhorou depois que as restrições relacionadas a Covid-19 foram relaxadas no final de maio. Os RPKs domésticos caíram 74,9% em junho, em comparação com as taxas de queda de 90% registradas nos dois meses anteriores.
Resumo
“Apesar do avanço observado no tráfego doméstico, o tráfego internacional, que normalmente representa quase dois terços das viagens aéreas globais, continua praticamente inexistente. A maioria dos países ainda está fechada para visitantes internacionais ou impôs quarentenas a eles, que têm o mesmo efeito de um bloqueio. O verão – a estação mais movimentada do nosso setor – está passando rapidamente, trazendo poucas chances de aumento nas viagens aéreas internacionais, a menos que os governos atuem de maneira rápida e decisiva para encontrar alternativas ao fechamento de fronteiras, bloqueios que enfraquecem a confiança e à quarentena que destrói a demanda”, disse de Juniac.
A Iata pede aos governos que implementem uma camada de medidas, com base nas diretrizes globais da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) para restaurar a conectividade aérea contidas em seu documento Takeoff: Guidance for Air Travel through the Covid-19 Public Health Crisis. A Iata também apoia a implementação de medidas de teste preciso, rápido, em grande escala e acessível e rastreamento de contatos para controlar o risco de propagação de vírus, ao reconectar economias e reiniciar as viagens e atividades de turismo. “Precisamos aprender a gerenciar os riscos da convivência com a Covid-19 adotando medidas direcionadas e previsíveis que vão recuperar a confiança dos viajantes e as economias destruídas”, disse de Juniac.
Fonte: Iata