Estava sentindo falta de algo.
Não sabia do quê.
A ansiedade vai tomando conta da gente nas horas em que não se sabe o que e porquê. E foi assim.
A ansiedade à superfície se entranhava na alma feito grossos fios de teias tecidas por aranhas estranhas e potentes.
Dei-me a limpar tudo. Mais e mais.
Como não adiantou, fui fazer bolos. Coloquei carinho nesta tarefa e distribuí entre as irmãs e vizinhos. Nada me preenchia aquele vazio.
Tornei a limpar, esfregar.
Voltei a fazer bolos e distribuir…
Hoje acordei sabendo.
Sinto falta de mim. Gosto de ser abraço apertado e carinho.
Na quarentena não posso mais.
Gosto de beijar as faces de quem gosto. Gosto de rir e conversar muito.
Estou com falta de mim desde o começo.
E estou com a falta de vocês todos que amo, aqui, ao redor. Comigo.
Está é a vida que não tenho mais. Está a falta que machuca.
Sei que vai passar, como tudo passa.
Enquanto isso, limpo e esfrego.
Faço doces e distribuo feito os abraços e beijos que não posso dar.
“Quarentena”
Sonia Bittencourt
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