Cafeterias têm se espalhado país afora. Seja em franquias que abrem apenas uma porta para fornecer café para viagem, seja em espaços onde são servidos os mais variados tipos de café. Normalmente, essas lojas estão nas calçadas e nas ruas. Mas em Curitiba tem um café que está a 75 metros de altura. Quem em sã consciência abriria um empreendimento que faz a pessoa entrar num elevador e apertar o botão para o 20º andar? Sue Ellen da Fonseca topou e em setembro de 2021 abriu o Café 217, no Edifício Tijucas, prédio de 64 anos na famosa Boca Maldita, com uma ala comercial, outra residencial e uma galeria que vai da Av. Luiz Xavier até a R. Cândido Lopes.

Pois o andar onde está o Café 217 em Curitiba, o último da ala comercial, faz parte da história da televisão do Paraná porque foi ali, em 1960, que o empresário Nagib Chede instalou os equipamentos e estúdios da TV Paranaense e fez a primeira transmissão em 29 de outubro daquele ano. No final da matéria, leia depoimento sobre essa história.

Mas, voltando ao Café 217. Sue conta que faz bordado há quase 30 anos e foi folclorista por 18 anos e sua ideia era “ter uma loja de roupas autorais com bordados folclóricos e um pequeno café junto”. Ao começar a se envolver com o café, deixou de lado a proposta da loja e foi procurar um ponto para iniciar o negócio. E a vida mostra como coisas pré-concebidas (a busca por um local na rua) podem dar uma guinada com momentos nada a ver.

Ela relata que procurou várias lojas, mas nenhuma “batia”. Aí, um dia, foi ao salão que fica num edifício no 10º andar e “me ofereceram um cafezinho. Então, enquanto tomava aquele cafezinho, olhando pela janela, eu pensei em procurar salas no alto”. Surgiu o Café 217 no 20º andar. E destaca: “E olha que a vista do salão era só para prédios…”.

O espaço, que abre de segunda a sexta das 12h às 19h e aos sábados das 12h às 18h, é pequeno, com 7 mesas, e tem decoração bem colorida, como gosta Sue. O Café é da família e seus filhos e uma amiga trabalham no local.

O cardápio vai do cafezinho (R$ 6,50) ao Pingado (R$ 8), passando pelo Mocha (16), Café com Coca ou Café com Tônica (R$ 13) a uma receita artesanal, o Zeca Vegano (R$ 13). Há ainda opções de Cappuccino e Latte (de R$ 13 a R$ 16), Cafés gelados (R$ 16), Soda Italiana (R$ 13), Alcoólicos do Jack como o Overlook (Jack Daniel’s e Coca-Cola, a R$ 26) e Bento Carneiro (caipirinha de limão e espresso, a R$ 23). Tem sanduíches e doces para acompanhar.

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Eu imaginava que o 217 do Café era por causa do número do conjunto comercial. Nada disso. Fã de terror desde pequena, Sue explica que o número é referência “ao quarto da mulher na banheira” do livro O Iluminado”, escrito por Stephen King, em 1977. Overlook, o nome de um dos cafés, é referência ao hotel do livro onde o quarto 217 era um quarto proibido.

Com sol ou chuva, ir ao Café 217 e sentar próximo a uma das janelas é poder ver a Serra do Mar e ver Curitiba de uma maneira diferente, para variar.

Toda terça-feira, eu e amigos nos reunimos num café em Curitiba. E Luiz Guilherme Siqueira, da turma e primeiro secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, lembrou que naquele andar do Café 217 comandou nos primórdios da TV no Paraná um programa de entrevistas sobre aviação.

Vista de Curitiba do Café 217.

O início da TV no Paraná

Entrevistado por José Wille, no Projeto Memória Paranaense, Nagib Chede lembrou como começou a história da televisão no Paraná:

“Em 1959 eu tive uma permanência prolongada nos Estados Unidos da América.  Lá, como dono de estação de rádio em Curitiba, tive boas relações com uma das maiores organizações de TV do mundo, que era a NBC de Nova Iorque. E travei esse bom relacionamento com o engenheiro desta emissora, que era de origem portuguesa, falava português, facilitando, porque eu tinha dificuldade no inglês. Aí ele me convidou para visitar a fábrica de equipamentos de rádio e televisão em Nova Jersey. Lá eu vi uma câmera de TV por 100 dólares, para fins de circuito fechado, de vigilância. Eu comprei essa câmera e trouxe para Curitiba, com vontade de ter uma televisão de circuito fechado em casa. Depois trouxe um técnico do Rio de Janeiro que fez adaptações para que ela pudesse funcionar com os aparelhos de televisão existentes no Brasil. E aí nós colocamos um aparelho de TV com imagem, pela primeira vez, na loja Tarobá, na Avenida Luiz Xavier, ligado à câmera em outro andar por fio, em circuito fechado. E começamos a passar filmes que eram vistos no televisor que ficava na vitrine da loja para o público. As pessoas se interessavam muito e paravam para ver diante da vitrine. Quem nunca tinha saído de Curitiba e ainda não conhecia a TV através de São Paulo ou Rio de Janeiro, se reunia para ver os filmes que nós passávamos. Depois de um tempo, esse mesmo técnico entendeu de trazer um pequeno transmissor de televisão, que colocamos ligado a esta câmera no nosso edifício Marisa, na R. Senador Alencar Guimarães. Então começamos a transmitir esses programas e filmes com pequeno alcance, mas com sinal que chegava até São José dos Pinhais”.

Jean Luiz Féder, jornalista da Abrajet-PR

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