Mendoza é a principal região vinífera da Argentina com mais de mil vinícolas. Vou relatar minha experiência da última viagem a Mendoza. Logo que passar esta pandemia do coronavírus pretendo retornar e conhecer mais vinícolas e saborear mais vinhos da região.

Para nós, brasileiros, os vinhos argentinos da região de Mendoza agradam muito e geralmente fazem parte das nossas adegas. A proximidade com o Brasil, principalmente região Sul e Sudeste, a qualidade dos vinhos argentinos e a boa gastronomia local, são atrativos para uma prazerosa viagem.

Vou relacionar alguns vinhos que aprecio muito mas ressaltando que existe grande variedade a ser explorada.

Escorihuela Gascón

É uma bodega muito antiga de Mendoza, fundada em 1884, situada em Godoy Cruz. Além dos seus vinhos ótimos, tem um restaurante na cidade de Mendoza do renomado Francis Mallmann. Foi certificado com um dos 50 melhores restaurantes do mundo. Vale a pena fazer uma reserva e se deliciar com sua gastronomia harmonizada com os vinhos da Bodega.

Restaurante do Francis Mallmann na Escorihuela Gascón

O vinho Pequeñas Producciones é 100% Cabernet Sauvignon, com envelhecimento de dez meses em barril de carvalho francês. No olfato sente-se a presença de frutas negras maduras, pimenta do reino, anis, cânfora e madeira. No paladar, a presença de ameixa, morango, trufas de chocolate.

O vinho The President´s Blend tem Malbec, Cabernet Sauvignon e Syrah. A cor é vermelho púrpura intensa e brilhante. Tem aroma de frutas vermelhas, compotas de frutas pretas sobre fundo balsâmico. O paladar é amplo e suculento, com rica presença de frutas vermelhas, taninos firmes e final longo.

O vinho DON é um varietal, 100% Malbec. Tem aroma intenso e frutado, com reminiscência de ameixas pretas, morangos maduros, mirtilos e amoras. Na boca é amplo e abundante, com sabores de frutas vermelhas e pretas como ameixas e frutas silvestres, taninos equilibrados e final longo.

O MEG (Miguel Escorihuela Gascón) tinto é elaborado com Malbec e Cabernet Sauvignon. No olfato é complexo. com a presença de cassis, cerejas, ameixas pretas, especiarias da Provença, cravo, baunilha e cacau. No paladar é um vinho vibrante, sofisticado, com final vivo e refrescante. O MEG Chardonnay tem boca com notas de manteiga, mel, equilíbrio entre álcool e acidez. O MEG Brut Nature é um espumante elaborado com Chardonnay e Pinot Noir. Tem aroma fresco, frutado com lima, pêssego branco e notas de cereja. No paladar tem ataque refrescante com efervescência vibrante amanteigada.

Kaiken

Bodega Kaiken

O fundador da bodega, Aurelio Montes (fundador da Bodega Montes do Chile), como o Caiquén, ganso selvagem da Patagônia, que atravessa a Cordilheira do Andes, entre Argentina e Chile, estabeleceu a Kaiken na região de Mendoza.

Vinhos da Bodega Kaiken

O Vinho MAI, que significa “Primeiro” na língua Pehuenche, é um ícone da vinícola. É um Malbec, com uvas selecionadas de vinhedos de 125 anos de idade da região de Vistalba. Aprecio muito este vinho que é encorpado, na boca é redondo, aveludado com taninos suaves. Mai é muito significativo para mim porque é o apelido do meu filho primogênito.

O Kaiken Ultra Malbec provém do Vale do Uco, com grande intensidade aromática de frutas pretas como mirtilos. Na boca aparecem notas frutadas e picantes com alecrim, tomilho e flores. É delicioso degustar também Kaiken Ultra Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Pinot Noir.

O vinho Kaiken Obertura é um Cabernet Franc de cor vermelha rubi intenso, com tons violáceos. Tem aroma de groselhas maduras, ameixas frescas, pimenta vermelha, preta e cravo. Na boca tem frescura, acidez com sensação de mineralidade e final longo. Tem potencial de guarda de mais de dez anos.

Catena Zapata

Catena Zapata

A vinícola foi fundada em 1902 pelo imigrante italiano Nicola Catena. Foi seu neto, Nicolás Catena Zapata que lançou o vinho argentino na era moderna. O vinhedo Adrianna da família, situado a quase 1.500 metros de altitude, é chamado de Grand cru da América do Sul.

A vinícola em Mendoza tem uma bela edificação em forma de pirâmide e a sala envidraçada de degustação fica no meio da sala de barricas.

O vinho Catena Zapata Malbec Argentino se sobressai aos grandes vinhos do mundo. Tem cor intensa púrpura, com excepcional aromaticidade, presença de amoras, ameixas, cassis e violetas. Em boca é delicioso, com boa estrutura, frutado e um toque de mineralidade.

O Angelica Zapata Cabernet Sauvignon é elegante, potente e concentrado. Tem cor rubi, com aromas de cereja vermelha madura, ameixa, groselha preta e notas de cravo e tomilho. Na boca é intenso, com taninos finos, final longo e persistente, com delicados sabores de baunilha que remetem ao seu período de dezoito meses em barricas de carvalho.

Já o D.V. Catena Malbec-Malbec é bem equilibrado, elegante, complexo. Na boca tem sabores de ameixa madura, sedosidade, com final longo e aveludado.

Ruca Malen

Ruca Malen

A Ruca Malen começou em 1998 com Jean Pierre Thibaud e Jacques Louis de Montalembert. Em sua maioria, seus vinhos combinam uvas de Luján de Cuyo e Vale do Uco.

Tem um restaurante premiado situado no meio da vinícola com vista para a imponente Cordilheira dos Andes. Recomendo fazer reserva e aproveitar o menu que harmoniza perfeitamente com seus vinhos.

O vinho Ruca Malen Chardonnay tem aroma de frutas cítricas como laranja acompanhado de maçã, pera e notas sutis de amêndoas. Na boca é fresco, equilibrado e persistente.

O Kinien Lote Único Malbec é produzido no Vale do Uco. Tem cor rubi intenso e tons violáceos. Em boca tem sabor de frutas vermelhas e pretas onde se destaca cereja madura, ameixa, cassis, alcaçuz e cacau. Tem grade volume, concentração, persistência e elegância.

E o Kinien de Don Raúl é um blend de Malbec, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Tem cor rubi intenso, aroma de pimenta, alcaçuz e canela. Em boca tem grande complexidade com notas frutais, especiarias e taninos doces.

Bonfanti

Bonfanti

A Vinícola Bonfanti foi fundada por Roberto Bonfanti em 2004 a partir das vinhas implantadas em 1915 por sua família no pé da Cordilheira dos Andes.

Na visita fomos recebidos pela proprietária que nos levou para um passeio dentro dos seus vinhedos de Luján de Cuyo antes da degustação.

Os vinhos são deliciosos e ainda não consegui encontrá-los nas lojas de Curitiba.

O vinho Bonfanti Chardonnay, elaborado pelo enólogo Sebastián Bonfanti, com os vinhedos a 950 metros acima do nível do mar, tem cor dourada, aroma de abacaxi, goiaba, manga, toques de maça verde e limão. No paladar sente-se o gosto de abacaxi, goiaba e pera.

O Bonfanti Malbec Reserva tem cor violeta intensa. No nariz sente-se o perfume de ameixa madura, pimenta branca, toques de baunilha, anis e canela. A entrada na boca é doce com o sabor de ameixa, pimenta, baunilha e madeira.

Bonfanti Cabernet Sauvignon Reserva é elaborado com as uvas do vinhedo de El Cepillo do departamento de San Carlos, Vale do Uco, situado a 1.150 metros de altitude. Este vinho apresenta-se em boca com as deliciosas características do Cabernet Sauvignon, com final longo e sedoso.

Trapiche

Trapiche

Eu estava receosa de visitar a Trapiche porque tive uma experiência não muito agradável com alguns vinhos desta vinícola vendidos no Brasil. Mas quando fomos recebidos na vinícola, visitamos os vinhedos, as instalações e degustamos os vinhos, mudei totalmente de opinião e virei apreciadora de alguns rótulos da Trapiche.

A vinícola foi criada em 1883 e tem vários rótulos premiados internacionalmente. A edificação é muito bonita, situada em área verde, com belo paisagismo.

Sala de degustação

O vinho Iscay Malbec-Cabernet Franc, com dezoito meses em barricas de carvalho francês, tem cor púrpura profunda, aromas de violeta, frutas vermelhas maduras e taninos generosos. A colheita de 2009 obteve 95 pontos no concurso James Sucking.

Trapiche Terroir Series Malbec-Finca Ambrosía tem cor vermelha intensa, com reflexos rubi. O aroma é de frutas pretas com notas fumadas e mentoladas. Na boca é frutado e mineral com final persistente.

O Trapiche Medalla Cabernet Sauvignon me encantou com sua cor vermelha intensa, tons violáceos, aroma de compota de ameixa, passas, tabaco e toque de carvalho. O sabor é redondo, persistente e os taninos são macios.

SinFin

SinFin

A vinícola foi fundada em 1975 por Carlos Caselles e tem vinhos de boa qualidade.

O vinho SinFin Guarda Bonarda tem cor rubi e tons violáceos. Apresenta aroma balsâmico, café, cacau e baunilha. Em boca entra doce, com boa estrutura, corpo médio, boa acidez e frutado.

O vinho El Interminable Blend de Malbec, Cabernet Franc e Petit Verdot, elaborado com os vinhedos de Luján de Cuyo (1.030 metros de altitude) e Vale do Uco (de 1.100 a 1.200 metros de altitude), é um vinho complexo, corpulento. Tem aromas de amora, cereja, ameixa, pimenta, menta, baunilha e chocolate. Tem final de boca fresco e persistente.

O SinFin Gran Guarda Malbec tem cor brilhante de vermelho púrpura com tons violáceos. Apresenta aromas de framboesa, ameixa, amora, violeta e rosas. Entra em boca de forma doce, com taninos redondos e estrutura equilibrada.

Zuccardi

Zuccardi é empresa familiar fundada em 1963 pelo engenheiro Alberto Zuccardi. Tem vários vinhedos e olivais em diversas áreas de Mendoza bem como hotelaria, centros de visitantes e restaurantes com boa gastronomia harmonizada com seus vinhos.

É difícil escolher vinhos desta vinícola com tantos rótulos muito bons.

Zuccardi

O vinho Zuccardi Finca Piedra Infinita, do Vale do Uco, a 1.100 metros de altitude, é 100 % Malbec, elaborado com uvas selecionadas manualmente. É um vinho tinto com grande estrutura, boa acidez e mineralidade. No nariz sente-se aromas de frutas vermelhas frescas como morango e framboesa. O paladar é intenso, bem estruturado com final suave.

O Zuccardi Aluvional Paraje Altamira também é 100% Malbec do Vale do Uco a 1.100 metros de altitude. O aroma é complexo de morango, cereja, ameixa, com notas de ervas e flores. Na boca tem entrada sedosa, suculenta, com taninos estruturados e final longo.

Emma Zuccardi Bonarda também é do Vale do Uco. Tem cor vermelha púrpura intensa, aromas de frutas vermelhas e compota. A entrada em boca é intensa, com taninos sedosos, macios e redondos.

Vistalba

Vistalba

É uma belíssima vinícola fundada em 2003 por Carlos Pulenta, da terceira geração de tradicional família vinícola. Tem vinhedos em Luján de Cuyo e Vale do Uco.

Gosto muito dos vinhos desta vinícola, principalmente o Tomero, cujo nome é uma homenagem ao nobre ofício do homem responsável por abrir e fechar a entrada de água proveniente da Cordilheira dos Andes que irriga fazendas e vinhedos.

A visita a vinícola de Luján de Cuyo começou com o Espumante Progenie criado em homenagem aos noventa anos de Dom Antonio Pulenta. É feito com uvas Chardonnay e Pinot Noir pelo método champenoise. É um espumante elegante e complexo devido ao envelhecimento por mais de 36 meses.

Os vinhos Vistalba Corte A, B e C são blends elaborados com Malbec, Cabernet Sauvignon e Bonarda da Finca Vistalba de Luján de Cuyo/ Mendoza.

O Vistalba Corte C obteve 93 pontos Tim Atkin. Tem cor rubi vibrante, com aromas de couro, alcaçuz, tabaco, especiarias, com frutas silvestres e toque de baunilha. No paladar é vivo e vibrante, com sabor de frutas vermelhas frescas como morango e framboesa, toque herbáceo com fim de boca duradouro.

O vinho Vistalba Corte A obteve 94 pontos no Guia Descorchados 2020. É mais complexo e elegante que os cortes B e C.

Já os Tomero Malbec Classico, Reserva e Gran Reserva me encantam. São elaborados com uvas do terroir de Los Arboles Tunuyán Vale do Uco. O Tomero Malbec Classico tem cor vermelha intensa com reflexos violáceos, aroma de frutas vermelhas. Em boca é doce, com boa estrutura, acidez, taninos sedosos e longa persistência. E o Tomero Gran Reserva é mais complexo, robusto, equilibrado, com final persistente.

Nieto Senetiner

A Nieto Senetiner iniciou sua história em 1888 em Luján de Cuyo com a chegada de imigrantes italianos que começaram o plantio dos primeiros vinhedos.

Nieto Senetiner

Os vinhos Don Nicanor podem ser Chardonnay, blend, Cabernet Sauvignon, Malbec e Cabernet Franc.

O vinho Don Nicanor Cabernet Sauvignon é elaborado com uvas de Luján de Cuyo e Vale do Uco. Tem cor vermelha granada. No nariz tem aroma intenso de amora, especiarias combinado com notas de baunilha. Na boca é intenso, profundo, com taninos doces e equilibrados.

O Nieto Senetiner Malbec DOC, do vinhedo de Luján de Cuyo, doze meses em barricas de carvalho, tem cor vermelha intensa, aroma de frutas vermelhas, compota e violetas. Na boca tem taninos doces, com entrada suave e final longo.

E o Benjamin Cabernet Sauvignon, com teor alcoólico de 12,5%, tem cor vermelha rubi. No nariz tem aroma de groselha, especiarias e pimentões. Na boca é elegante, harmonioso, com taninos suaves e final agradável.

Infraestrutura turística em Mendoza

A infraestrutura para turismo de Mendoza é excelente com ótimos hotéis e restaurantes em diversos lugares da cidade, em Luán de Cuyo e no Vale do Uco. A cidade oferece muitas atrações como tour pelas vinícolas com degustação e almoço, tour pelas montanhas, principalmente para o Aconcágua, para reservas naturais, caminhadas, centros de esquis, passeios de bicicletas, travessia dos Andes e muito mais.

Casa alugada em Luján de Cuyo

Já estivemos hospedados em hotéis dentro da cidade de Mendoza mas também em outros dentro das vinícolas.  É interessante pesquisar as opções na internet e consultar pessoas que já estiveram lá antes de programar a viagem.

Acomodações em Luján de Cuyo próximo a vinícolas
12.

Oda al Vino, em Puerto Iguazú

É uma feira anual de vinhos argentinos que ocorre em Puerto Iguazú, na divisa com o Brasil, em Foz do Iguaçu Geralmente é realizada no início de setembro. Participam mais de cinquenta bodegas com a presença de alguns proprietários, enólogos, sommeliers, vinhos de qualidade e boa gastronomia. Vale se programar e conhecer e degustar os bons vinhos argentinos.

Oda al Vino 2017 com o enólogo do vinho Judas, da Bodega Sottano

Esta experiência de conhecer o produtor, o lugar onde estão os vinhedos, como são feitos os vinhos, a cultura local, a harmonização com a gastronomia, é muito interessante pois fica na memória.

Em Curitiba encontram-se muitos vinhos argentinos em diversos fornecedores.

Tim tim!!!

Bete Yang, é Engenheira Civil, formada em 1975 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é enófila desde 1996 quando visitou região vinícola de Stellenbosch na África do Sul. Fez cursos de vinhos em Curitiba, no Vale dos Vinhedos (RS), na Associação Brasileira de Sommeliers/RJ, em Rioja (Espanha) e na Ecole du Vin de Saint-Émilion (França). Desde 2017 atua como coordenadora do Viniep (Confraria de vinho do IEP- Instituto de Engenharia do Paraná). Visitou mais de 140 vinícolas na Europa, América do Norte e do Sul, África do Sul e Oceania. bete_yang@yahoo.com

Fotos de Bete Yang.

Foto que abre a matéria: Luján de Cuyo/Vistalba

Comentários

5 Comments

  1. Carlos V. Medina 6 de abril de 2021 at 13:32 - Reply

    Mais um artigo interessante, nesta ocasião da prestigiosas vinícolas argentinas. Parabéns Bete pelas dicas, desde já agradecemos muito.

  2. Cambri 6 de abril de 2021 at 13:42 - Reply

    Muito bom. Dicas preciosas. Dá vontade de embarcar amanhã.

  3. Douglas Moeller Diener 6 de abril de 2021 at 19:25 - Reply

    Parabéns Bete pela excelente matéria. Um verdadeiro manual e roteiro das vinícolas de Mendonza. Parabéns e continue assim.

  4. Helmut Neubauer 6 de abril de 2021 at 19:54 - Reply

    Hmmm, que vontade de degustar alguns dos vinhos descritos. Mas in loco!

  5. Sater 10 de abril de 2021 at 08:47 - Reply

    Parabéns pela objetividade e clareza das observações registradas durante tua experiência nas visitas. Visitei algumas das vinícolas mencionadas mas nao lembro de nada. Ótimo guia para consulta futura. Vou guardar.

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