As ilhas de San Blas, litoral atlântico do Panamá, canalizam a um raro e quase desconhecido destino. O arquipélago prova que o Panamá é mais do que o Canal e outras ondas caribenhas. Mas não se trata aqui de comparar regiões, belezas são incomparáveis. As novidades nas ilhas não estão mapeadas. Nada é determinado. Afinal, viagens que incorporam o espírito da liberdade são sagradas demais para serem desperdiçadas com obrigações. Ali se inventa aventura a cada instante. As decisões de onde nadar, velejar, praticar mergulho autônomo, ou snorkelling, são do visitante. Cada um escolhe em qual ilha aportar para lavar a alma.
São 360 ilhas, das quais somente 56 habitadas – algumas não maiores que uma quadra de tênis – e outras cujo cenário é digno de cartunista: um montinho de areia rodeando uma palmeira. As ilhas são envolvidas pelo mar cristalino que de tão claro, confunde a profundidade. E basta uma escala em algumas dessas ilhazinhas desertas, frequentadas sobretudo por pelicanos e golfinhos para interagir com o mundo que os cerca. Todas despertam a impressão de reviver por algumas horas um pouco da aventura “robinsoniana”.
Apesar dos homens governarem as aldeias, a sociedade é matriarcal e são as mulheres que mandam no pedaço. O arquipélago de San Blas é pátria dos kuna, etnia que venera as mulheres e cultua as cores. Ali todas as festas são para elas: quando nascem, quando atingem a puberdade, quando têm o primeiro filho e por aí vai… Mas, não é uma nova versão das amazonas ou de fábula recém-descoberta dos irmãos Grimm. Este arquipélago existe mesmo.
O acesso se faz por via aérea, e antes mesmo do pequeno avião atingir seu teto máximo, já começa a descer. São trinta minutos de voo da Cidade do Panamá, mas a distância para as aldeias não pode ser medida em horas, e sim em séculos. Elas têm uma quietude histórica que faz com que pareçam cristalizadas no tempo. Em uma viagem a este território, é impossível dissociar a sensação de beleza da história de seu povo. É mais fácil uma sexta-feira santa cair num domingo, do que influenciar a cultura kuna. De sanha brava, lutaram por quase quinhentos anos para sobreviver e não permitir a aculturação. Essa luta só terminou em 1925, quando o governo do Panamá reconheceu o arquipélago de San Blas como território dos kuna, o Kuna Yala.
Paraíso étnico
A simples visão da pista de aterrissagem em El Porvenir, uma ilha que remete a uma passadeira estendida no mar, assegura a sensação de que se verá um belo espetáculo feito de paisagens únicas. Navegar entre as ilhas onde o sol brilha 350 dias, para não dizer o ano todo, faz brotar o sentimento de que não se desejaria estar em nenhum outro lugar do mundo.
Durante o trajeto, os viajantes vão se familiarizando com essas ilhas que ainda pertencem à natureza. O povoado de Nalunega é um emaranhado de casas que chegam até as bordas do mar. Uma das pousadas ali tem o mesmo look das casas: telhado de sapé, paredes de bambu que deixam passar sons e nuances de luz, e o chão de areia onde uma onda mais afoita pode lavar o quarto. São as evidências das palavras dos kuna, “se a maneira como vivemos desperta a curiosidade de nos conhecerem, é justo que provem nosso modo de viver. Não temos grandes hotéis, pois não permitimos que estrangeiros comprem nossas terras. Esta é uma das formas de não sermos envolvidos por outras culturas”.
Mas não foram essas ilhas paradisíacas que colocaram San Blas no mapa da arte mundial. Foram suas mulheres ao conceber seu vestuário que espelha a devoção e respeito que cultivam pela Mãe-Terra, e que resultou num dos mais belos trajes tradicionais. Compõe-se de um pareô com desenhos geométricos e uma blusa estampada onde, abaixo do seio, é costurado um sobretecido – o mola. Este é feito de diversas camadas de panos coloridos e recortados, e para conseguir mais textura, aplicam sutaches, sinhaninhas e entremeios. Seus desenhos labirínticos, cujas cores, formas e motivos são retirados da natureza, reproduzem peixes, aves, folhas e criam mandalas que buscam reproduzir a harmonia com o mundo. Afinal, não é este o princípio da mandala?
As kuna complementam a roupa com um lenço escarlate, anéis, brincos e as wini – pulseiras e caneleiras feitas de miçangas e vidrilhos. O ol-osu uma argola de ouro símbolo do sol, é colocado entre as narinas para afastar os espíritos malignos. A beleza do nariz é realçada ainda mais por um traço negro delineado em todo seu perfil e, como último detalhe um amplo lenço, geralmente em tons laranja ou fúcsia, para proteger do forte sol caribenho. As meninas “coroam” literalmente o traje com um periquito verde na cabeça.
Nas aldeias sempre se veem mulheres tecendo o mola em frente às suas casas, e ali mesmo os viajantes podem adquirir uma peça de qualidade por cerca de R$ 50,00. Essa atividade é a que oferece a melhor remuneração familiar, pois a pesca e a agricultura são apenas de subsistência.
As kuna não gostam de ser fotografadas, mas por US$ 1,00, abrem exceção. As mulheres sabem da importância da preservação de suas tradições. E vão além ao criar um tecido diferenciado, que ajuda a projetar os kuna no cenário da arte mundial e mantém sua etnia viva economicamente.
Onde ficar
As ilhas podem ser visitadas o ano todo, especialmente nos períodos de janeiro a julho e outubro a dezembro. E a hospedagem, em San Blas pode ser no Hotel San Blas (507-629-0613/280-6528), na ilha Nalunega, um dos mais tradicionais do arquipélago; Kwadule Eco Resort (507-269-6313), na ilha Kwadule, com cabanas confortáveis construídas sobre palafitas.
Seguro médico gratuito aos turistas
Os turistas que chegam ao Panamá pelo Aeroporto Internacional de Tocumen podem procurar pelos centros de informação turística localizados na zona da Imigração, onde será feita a entrega de um folheto com toda a informação necessária e de um cartão de usuário que garante um seguro médico gratuito, com cobertura médica de primeiro nível em casos de emergência que ocorram nos primeiros trinta dias da estadia. Quem necessitar de atendimento médico precisará apresentar este cartão junto com seu passaporte em qualquer centro de saúde.
A apólice de seguro cobrirá incidentes como morte acidental (até US$ 20 mil), hospitalização e gastos médicos em caso de lesões provocadas por acidentes ou em caso de alguma enfermidade contraída em território panamenho (até US$ 7 mil), gastos com odontologia de urgência (até US$ 2 mil), assistência legal administrativa por acidente (até US$ 3.500,00) e perda ou roubo de documentos, entre outros. É importante destacar que esta apólice de seguro médico não cobre acidentes causados por negligência – aqueles relacionados a álcool e drogas – assim como aqueles provocados pela prática de esportes radicais. A empresa de seguros Assicurazioni Generali será a responsável pela emissão desta apólice de seguros, e seu contrato terá vigência pelos próximos dois anos.
Heitor e Silvia Reali, jornalistas
Publicado no Aeroporto Jornal – março/2011
San Blas, the adventure of being free
Hector and Silvia Reali, journalists
The islands of San Blas, Panama’s Atlantic coast, channel to a rare and almost unknown destination. The archipelago is proof that Panama is more than the Canal and other Caribbean waves. There are 360 islands, only 56 inhabited – some no bigger than a tennis court. Decisions on where swimming, sailing, scuba diving and snorkeling are up to the visitor. Each one decides which island is the best to relax and enjoy. The archipelago of San Blas is home of the Kuna, who worships women and colors. All parties are for them; when they are born, when they reach puberty, when they have their first child and so on… It is a thirty-minute flight from Panama City, but the distance to the villages cannot be measured in hours, but in centuries.
They have a quietness that makes history seem crystallized in time. On a trip to this territory, it is impossible to dissociate the sense of beauty in the history of his people. The mere sight of the airstrip at El Porvenir, an island that seems to be a carpet lying on the sea, ensures the feeling that we will see a beautiful spectacle made of unique landscapes. Navigating between the islands where the sun shines for 350 days, if not all year, brings the feeling we couldn’t wish to be anywhere else in the world.
During the trip, travelers become familiar with these islands that still belong to nature. The Nalunega town is a tangle of homes that reach the edges of the sea. One of the inns there has the same look of the houses, thatched roof, bamboo walls that let in sounds and nuances of light and sand floor where a daring wave can wash the room. Evidences of the Kuna words “if the way we live intrigues them to know us, it is fair that they prove our way of life. We don’t have great hotels, because we do not allow foreigners to buy our land. This is one way of not being involved in other cultures”.
In villages women are seen weaving the “mola” (a long skirt with geometric designs and a patterned blouse where, under the breast, is sewn an extra fabric) in front of their homes, and even there travelers can buy a quality piece for about R$ 50,00. This activity is the main family income, since fishing and agriculture are for subsistence only.
The Kuna do not like being photographed, but for $ 1.00, they make exceptions. Where to stay The islands can be visited all year round, especially during January to July and from October to December. The lodging in San Blas can be at the Hotel San Blas (507-629-0613/280-6528), on the island Nalunega, one of the most traditional of the archipelago; Kwadule Eco Resort (507-269-6313), on the island Kwadule with comfortable cottages built on stilts.
San Blas, la aventura de ser libre
Héctor y Silvia Reali, periodistas
Las islas de San Blas, la costa atlántica de Panamá, canalizan hacia un destino poco común y casi desconocido. El archipiélago es una prueba de que Panamá es más que el Canal y otras olas del Caribe. Hay 360 islas, solo 56 habitadas, algunas no más grandes que una cancha de tenis. Las decisiones sobre dónde nadar, navegar, bucear y bucear dependen del visitante. Cada uno decide qué isla es la mejor para relajarse y disfrutar. El archipiélago de San Blas es el hogar de los Kuna, quienes adoran a las mujeres y los colores. Todas las fiestas son para ellos; cuando nacen, cuando llegan a la pubertad, cuando tienen su primer hijo, etc. Es un vuelo de treinta minutos desde la ciudad de Panamá, pero la distancia a los pueblos no se mide en horas, sino en siglos.
Tienen una tranquilidad que hace que la historia parezca cristalizada en el tiempo. En un viaje a este territorio, es imposible disociar el sentido de la belleza en la historia de su pueblo. La mera visión de la pista de aterrizaje de El Porvenir, una isla que parece una alfombra tendida sobre el mar, asegura la sensación de que veremos un hermoso espectáculo hecho de paisajes únicos. Navegar entre las islas donde brilla el sol durante 350 días, si no todo el año, trae la sensación de que no podríamos desear estar en ningún otro lugar del mundo.
Durante el viaje, los viajeros se familiarizan con estas islas que aún pertenecen a la naturaleza. El pueblo de Nalunega es una maraña de viviendas que llegan hasta las orillas del mar. Una de las posadas tiene el mismo aspecto de las casas, techo de paja, paredes de bambú que dejan entrar sonidos y matices de luz y suelo de arena donde una ola atrevida puede lavar la habitación. Evidencias de las palabras Kuna “si la forma en que vivimos les intriga para que nos conozcan, es justo que proporcionen nuestra forma de vida. No tenemos grandes hoteles, porque no permitimos que los extranjeros compren nuestra tierra. Esta es una forma de no involucrarse en otras culturas ”.
En los pueblos se ve a las mujeres tejiendo la “primavera” (una falda larga con diseños geométricos y una blusa estampada donde, debajo del pecho, se cose una tela extra) frente a sus casas, e incluso allí los viajeros pueden comprar una pieza de calidad por aproximadamente 50,00 reales. Esta actividad es el principal ingreso familiar, ya que la pesca y la agricultura son solo para la subsistencia.
A los kunas no les gusta que los fotografíen, pero por $ 1.00, hacen excepciones. Dónde alojarse Las islas se pueden visitar durante todo el año, especialmente de enero a julio y de octubre a diciembre. El hospedaje en San Blas puede ser en el Hotel San Blas (507-629-0613 / 280-6528), en la isla Nalunega, una de las más tradicionales del archipiélago; Kwadule Eco Resort (507-269-6313), en la isla Kwadule con cómodas cabañas construidas sobre pilotes.