Nada é subjetivo. Muito pelo contrário. Objetivo, seletivo e mundial. Tudo é o resultado de um trabalho de classificação realizado pela revista norte-americana especializada em arquitetura. A “Internacional Architectural Digest” selecionou as 31 mais belas ruas do mundo. Pelos critérios adotados, resultou em 1º lugar a Setenil de Las Bodegas, na Espanha; em 2º a Washington Street, no Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos, e em 3º lugar a nossa Rua do Bom Jesus, antiga rua dos judeus, em Recife. Vale destacar que a rua pernambucana é a única brasileira. É também a única rua sul-americana selecionada.

A revista que elegeu a Bom Jesus como a terceira rua mais bela do mundo apresenta a nossa turística rua assim: “Recife é a principal cidade mais a leste do Brasil e a bela Rua do Bom Jesus ocupa uma dos pontos mais orientais da cidade. A rua colorida, repleta de palmeiras altas está repleta de história. Datada do século XV esta rua continha a primeira Sinagoga construída nas Américas, a Sinagoga Kahal sur Israel. O prédio ainda está lá para os visitantes verem”.

Essa pequena rua vai da Avenida Marques de Olinda até a Praça Artur Oscar, mais conhecida como a Praça do Arsenal. Seus postes e luminárias. Paralelepípedos e trilhos. Calçadas largas e enormes lajotas. Arborização. Prédios de estilos tão diversos quantos lindos. Casario. Em uma de suas calçadas, a escultura do pernambucano Antônio Maria, famoso poeta, compositor e cronista brasileiro que faz parte do circuito da Poesia de Recife. Há, contudo, prédios que valem a pena ir a rua, a começar da acima citada Sinagoga Kahal. Lá funciona o Acervo Judaico. Nada de luxo e ostentação. Mas história, teatro, dança, etnia, fé, cultura de um povo, raça, perseguição, Torá, Talmude, arqueologia com escavação à amostra. Aliás, falando em escavações, há pelo menos dois prédios que devem ser visitados para que os tesouros arqueológicos sejam apreciados: a Galeria de Arte Ranulfo, na esquina com Rua Alfredo Fernandes onde funcionou a primeira agência do Banco do Brasil em Pernambuco e o Centro Cultura da Caixa, onde funcionava a Bolsa de Valores do Estado. Ao lado, o imponente prédio da Associação Comercial de Pernambuco.

A Rua do Bom Jesus é aconchegante, atraente, tranquila e familiar. Há pelo menos três décadas, toda a segunda-feira de Carnaval acontece nesse espaço o Encontro dos Blocos Líricos de Recife. Durante todos os anos realizam-se feiras mensais como de antiguidades ou temáticas, como a dos japoneses. Ou festivais, como o judaico.

Não esquecer que a Bom Jesus é, turisticamente, estratégica. Fica muito próximo do Marco Zero do Recife, ponto de referência de Pernambuco, da Torre Malakoff, do moderníssimo Museu Cais do Sertão, do Teatro Apolo além da já citada Praça do Arsenal onde se encontra o singular Paço do Frevo.

A Rua do Bom Jesus encanta em todas as épocas do ano. Tem charme. Tem muita história e por encontrar-se nos trópicos, evidentemente, tem muita luz. Tem ares de alameda e como tudo em Pernambuco, reúne arte e cultura.

Ricardo Guerra, jornalista, associado da Abrajet Pernambuco e ex-presidente da Abrajet Nacional

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