Serguei Mikhailovitch Eisenstein cineasta russo com expressivas obras do cinema mudo como O Encouraçado Potemkin e A Greve, completaria esse em 2023 125 anos de nascimento. Para homenagear o artista e comemorar a data, o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, abre no próximo dia 22 de junho, a “Serguei Eisenstein e o Mundo”.
Através de um conjunto de desenhos, esboços, fotografias, caricaturas, projeções e objetos, a exposição apresenta parte do processo criativo de um dos diretores mais inovadores e pioneiros da história do cinema. Serguei Eisenstein influenciou grandes cineastas e revolucionou o mundo das imagens com suas múltiplas linguagens.
A exposição retrata o universo de um dos nomes mais revolucionários da arte no século XX a partir da sua obra gráfica. As múltiplas linguagens visuais utilizadas por Serguei Eisenstein na sua obra foram para o mundo das imagens o que a Revolução Russa foi para os arranjos sociais, políticos e econômicos que transformavam a Europa no início do século.
Transversalidade
Composta por cerca de 200 obras, a exposição no Museu Oscar Niemeyer tece, através de esboços, fotografias, caricaturas, projeções e objetos, diálogos com acontecimentos e culturas que influenciaram o artista no seu processo criativo: do teatro Kabuki às culturas pré-colombianas, da Revolução Russa à Haitiana.
Entre elas, estão oito obras de arte asiática, gravuras e máscaras, que pertencem à coleção permanente do Museu Oscar Niemeyer, confirmando a transversalidade do acervo do MON às exposições temporárias que a instituição realiza.
Os desenhos exibidos apresentam a autonomia deste universo gráfico e eram considerados pelo próprio diretor como uma forma de transcrição dos seus pensamentos, tornando-se também uma etapa primordial na preparação dos seus filmes.
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Os esboços, assim como os desenhos de cenários, figurinos e personagens, transformam a exposição em um rico observatório sobre o processo criativo do diretor. Na exposição, o diálogo com este conjunto de obras que é marcado pelo seu aspecto cinemático é ainda enriquecido através da confrontação com objetos de diversas culturas que influenciaram o artista, provocando ainda um intenso diálogo com excertos dos filmes de Eisenstein, também projetados no espaço expositivo.
Luiz Gustavo Carvalho e Naum Kleiman, os curadores da mostra, dizem que “a ideia é propor para o público uma verdadeira imersão no complexo e rico processo criativo do artista, no qual o desenho está presente de maneira perene: das primeiras correspondências enviadas à mãe até as últimas meditações gráficas, que contrastam com as imagens irônicas e cotidianas do diretor”.
O cineasta
Serguei Eisenstein nasceu em Riga, em 1898. Após ter concluído a Escola Real iniciou seus estudos no Instituto de Engenharia Civil de Petrogrado, mas precisou interrompê-los com a eclosão da Revolução Russa. Nessa época, como soldado do Exército Vermelho, teve o primeiro contato com o teatro Kabuki e o idioma japonês, influências que o acompanhariam por toda a vida.
Em 1920, instalou-se em Moscou e começou os estudos teatrais na classe de Vsevolod Meyerhold, um dos principais diretores de teatro do século XX, realizando também seus primeiros trabalhos no teatro Proletkult. Em 1923, escreveu o primeiro ensaio para o jornal LEF.
A busca pela linguagem cinematográfica moderna, a descoberta das novas possibilidades de montagem, ritmo e ângulo foram realizadas nos seus três primeiros longas-metragens: “A Greve” (1925), “O Encouraçado Potemkin” (1925), considerado até hoje como um dos dez mais importantes filmes da história do cinema, e “Outubro” (1927). Em 1928, fez uma viagem de dois anos pela Europa, tendo ministrado palestras em Berlim, Zurique, Londres e Paris.
Entre 1930 e 1932, após ter alguns roteiros reprovados pela indústria cinematográfica de Hollywood, viveu e trabalhou no México. O filme “Que Viva México!”, feito com o cineasta Grigori Aleksándrov e o operador Eduard Tissé, principal fruto da passagem do diretor pelas Américas, permaneceu, entretanto, inacabado. Sob suspeita de deserção, Eisenstein viu-se forçado a regressar à União Soviética e retomou suas atividades como professor no Instituto Estatal de Cinema (VGIK).
O filme “Alexander Niévski”, com música de Serguei Prokofiev, alcançou um enorme sucesso junto ao público e foi um marco tanto no processo criativo de Eisenstein quanto no retorno do cineasta ao cenário cinematográfico da antiga União Soviética. Na última década de sua vida, entre 1938 e 1948, Eisenstein começou a refletir sobre uma nova forma de cinema, terminando a sua carreira com o filme “Ivan, o Terrível”, no qual trabalhou durante os anos passados em evacuação, em Alma-Ata (Cazaquistão), durante a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, o último filme do diretor, cuja ideia principal era sobre a expiação trágica de um governante pelos crimes cometidos durante sua luta pelo poder, recebeu ataques ferozes da crítica oficial. A segunda parte do filme foi banida, até 1958, e a terceira nunca foi realizada. Doente e impactado pela censura ao filme, Serguei Eisenstein morreu em 1948, aos 50 anos. Deixou um legado que ultrapassa a sua filmografia e contempla uma vasta obra gráfica e diversos estudos teóricos sobre o cinema.
Ele é um dos nomes fundamentais na consolidação da linguagem das imagens em movimento e um dos pioneiros da montagem cinematográfica. Sua obra influenciou grandes cineastas, tais como Mikhail Romm, Orson Welles, Jean-Luc Godard, Brian de Palma, Oliver Stone, Alfred Hitchcock, Ettore Scola e Glauber Rocha, e continua sendo objeto de estudo de diretores, artistas e críticos do cinema.
Serviço
Exposição “Serguei Eisenstein e o Mundo”
Sala 11
Abertura: 22 de junho, 19h
Produção: Ars et Vita