Um sonho de anos era degustar alguns vinhos da Bodega Vega Sicilia, principalmente o vinho Unico, considerado o melhor vinho da Espanha. Realizei este sonho numa viagem em setembro de 2024 pela Ribera del Duero, Comunidade Autônoma de Castilla y Leon. E gostei muito disto!
Bete Yang na Bodega Vega Sicilia.
Vega Sicília é uma bodega espanhola que faz parte do grupo das dez melhores do mundo. Ela agrupa cinco bodegas: Vega Sicilia y Alión, em Ribera del Duero; Pintia, em Toro; Macán, em La Rioja, e Tokaj Oremus, na Hungria.
Qualidade, excelência, respeito pela terra, história e inovação são suas características.
A vinícola foi fundada em 1864 por Don Eloy Lecanda y Chaves que plantou várias uvas da região vinícola de Bordeaux, na França, incluindo Cabernet Sauvignon e Merlot , que ainda são usadas nos vinhos hoje.
Desde 1982, mesmo ano em que a Ribera del Duero recebeu o estatuto de Denominação de Origem (DO), a vinícola é propriedade da família Álvarez, que é membro da Primum Familiae Vini (associação de vinícolas familiares com um número limitado de membros de doze famílias) .
Os vinhos da Vega Sicília são reconhecidos mundialmente como alguns dos melhores e mais valorizados vinhos tintos do mercado. Seu vinho mais vendido custa, em média, de US$ 497 a garrafa, cerca de R$ 3 mil.
Apesar das semelhanças do nome, Vega Sicilia não tem nenhuma conexão com a ilha da Sicília ou com os vinhos italianos daquela região. A palavra “Vega” se refere à vegetação verde que cresce ao longo da margem do Rio Douro, enquanto “Sicilia” é referência a Santa Cecília, a padroeira dos músicos, em cuja homenagem várias aldeias em Castela e Leão receberam o nome. O fundador da vinícola, Don Eloy Lecanda y Chaves, não deixou nenhum registro escrito conhecido sobre o motivo pelo qual escolheu Vega Sicilia como o nome de sua vinícola.
A Bodega Vega Sicilia produz três tipos diferentes de vinho.
Único
Este vinho Gran Reserva é o vinho de assinatura da Vega Sicilia que geralmente é lançado dez anos após a safra, embora alguns engarrafamentos possam não ser lançados por até 15 anos ou mais.
Retirado de algumas das vinhas mais antigas da Ribera del Duero, o vinho é principalmente Tempranillo (aproximadamente 80%, mas dependendo da safra) e Cabernet Sauvignon (aproximadamente 20%). Em uma safra média, o Unico será responsável por um pouco menos de um terço da produção da Bodega. Embora em safras ruins, a vinícola pode não produzir nenhum Unico.
Valbuena 5°
O 5° indica que este vinho foi envelhecido por cinco anos antes do lançamento. O vinho é composto principalmente de Tempranillo, com Merlot e Cabernet Sauvignon.
Vega Sicilia Unico Reserva Especial
Uma mistura não vintage de diferentes Unicos, envelhecida por pelo menos des anos. Este vinho pode incluir uvas de safras colhidas com mais de 30 anos de diferença e geralmente disponível apenas para clientes particulares sob alocação estrita.
A degustação de vinhos Vega Sicilia não foi planejada porque não tinha visita aberta ao público em setembro de 2024. Já havia tentado fazer a degustação em Rioja em 2016, chegando até a porta da Bodega, mas sem resultado.
Mas ocorreu que em setembro de 2024 eu estava hospedada em Peñafiel, Ribera del Duero, quando fui a enoteca Anágora, do simpático casal de espanhóis Goyo e Raquel, e apareceu a oportunidade de degustar alguns vinhos Vega Sicilia. Era o “cavalo encilhado” que surgiu na minha frente. Não hesitei em degustar apesar dos valores serem relativamente elevados.
Enoteca Anágora, Peñafiel.
Eu comecei as degustações pelos mais simples e fui progredindo para os mais complexos.
Pintia, Vega Sicilia
O fantástico Pintia é o grande tinto elaborado por Vega Sicilia na emergente região do Toro. Logo em sua primeira safra, recebeu muitos elogios de Jancis Robinson, que o indicou como o melhor vinho do Toro que já provou. Poderoso e encorpado, mas com classe e elegância, “um punho de aço em luvas de seda”, nas palavras de Steven Spurrier.
Recebeu na safra de 2018 96 pontos de James Suckling, 95 pontos de Robert Parker, 95 pontos do Guia Peñin, 93 pontos da Wine & Spirits, 93 pontos da Wine Spectator e 93 pontos da Wine Enthusiast.
Bete Yang com o Pintia.
É elaborado na região de Toro com 100% de uvas Tempranillo.
Os vinhedos têm entre 25 e 50 anos de idade.
É um vinho encorpado, com teor alcoólico de 15%.
Apresenta cor rubi profundo. O aroma é intenso de amora, cereja, mirtilo, menta, alcaçuz, violetas secas, sândalo.
Em boca é seco, com muito corpo, com média acidez, tanicidade presente e final longo.
Harmoniza com carnes vermelhas.
Eu gostei muito deste vinho.
Alion, Vega Sicilia
Este verdadeiro clássico da Espanha é elaborado com uvas selecionadas de terroirs localizados nas melhores áreas da região de Ribera del Duero.
Alion é um colecionador de prêmios e altas notas da crítica especializada. Um tinto rico, intenso e moderno.
É elaborado na Bodega de Ribera del Duero, 100% com uvas Tempranillo. As vinhas foram plantadas em 1986.
Seus prêmios e notas em 2019: James Suckling 95 pontos Wine Enthusiast 95 pontos, Guia Peñin 95 pontos, Robert Parker 94 pontos, Tim Atkin 94 pontos e Wine Spectator 92 pontos.
Apresenta cor rubi intenso, com teor alcoólico de 15%.
Este vinho revela um buquê aromático impressionante, com aromas intensos de frutas vermelhas maduras, notas sutis de especiarias e um toque delicado de baunilha.
Em boca, apresenta uma estrutura sólida, com taninos aveludados, elegância e um final longo e persistente. Com um potencial de guarda notável, este vinho pode envelhecer por até 20 anos, desenvolvendo ainda mais complexidade ao longo do tempo. Ideal para quem busca um vinho tinto elegante e com grande potencial de envelhecimento.
Harmoniza com carnes vermelhas.
Nem preciso dizer que gostei muito deste vinho.
Valbuena 5º, Vega Sicilia
Um dos grandes ícones do vinho espanhol, o reputado Valbuena 5º Año é um vinho da Bodega Vega Sicilia. Um tinto superlativo, de grande classe e elegância.
É elaborado com 96% de Tempranillo e 4% de Merlot.
Uvas provenientes de vinhedos próprios localizados em Ribera del Duero. Superfície do vinhedo de 210 hectares, altitude entre 700 e 900 metros e vinhas com idade média de 33 anos.
Prêmios e notas em 2018: Tim Atkin 97 pontos, James Suckling 96 pontos, Robert Parker 96 pontos, Guia Peñin 96 pontos e Wine Spectator 94 pontos.
Apresenta cor rubi intensa, com teor alcoólico de 14,5%, safra 2018.
Tem aroma de couro, madeira, chocolate, cereja, ameixa e terra molhada.
Em boca é seco, muito corpo, taninos expressivos, notas defumadas e toques de café.
Harmoniza com carnes vermelhas, cordeiro e queijos maturados.
Vinho delicioso!
Bete Yang e as garrafas de Alion, Flor de Pingus, Valbuena 5º e Unico 2014.
Unico 2014, Vega Sicilia
É o carro-chefe da Vega Sicilia.
É um vinho elaborado 94% com uvas Tempranillo e 6% Cabernet Sauvignon. O teor alcoólico é de 14% (dependendo da safra).
As qualidades do Tempranillo e do Cabernet Sauvignon em diferentes proporções são reunidas com perfeição neste vinho. Cada um fornece um fator diferenciador que torna o vinho ótimo em qualquer safra.
Pontuação da safra 2014: Robert Parker 98 pontos, Suckling 97 pontos, Vinous 97 pontos, Decanter 97 pontos, Guide Penin 97 pontos e Jancis Robinson 17,5 pontos de 20.
210 dos quase mil hectares da propriedade Vega Sicilia são usados para o cultivo de videiras, com 19 diferentes tipos de solo e 64 parcelas com características muito específicas. A influência do curso do Rio Douro e próprio tempo têm desempenhado um papel fundamental no uso excepcional desses solos.
40 desses hectares são usados para produzir o Unico, que passa pelo menos dez anos entre barril e garrafa, representando um dos processos de envelhecimento mais longos do mundo. Usados 225 litros franceses e barricas de carvalho americano e cubas de madeira de 22 mil litros. Uma longa e complexa, mas maravilhosa construção dos vinhos, durante os quais obtêm infinitas nuances, definição, textura e profundidade ao longo do tempo.
Este terroir incrível e o processo de envelhecimento único tornam os vinhos intemporais quando envelhecem. 2012 é uma safra concentrada, suculenta, sedosa e bem definida. É uma expressão que pode ser apreciada imediatamente, mas se tornará incrível com o tempo.
A primeira impressão no nariz é mais moderada na colheita de 2014, mas o paladar é amplo, rico e delicioso. É um vinho com estrutura, mas também com uma textura sedosa, com concentração e finesse.
Oferece uma complexidade infinita que se revela gradualmente, a cada gole, com um paladar imensamente sedoso e elegante, e tem uma capacidade de envelhecimento que apenas alguns poucos vinhos no mundo podem ostentar.
É um vinhaço e dá prazer bebê-lo!
E nesta relação de grandes vinhos espanhóis, vou acrescentar um outro vinhaço da Ribeira del Duero, Flor de Pingus.
Flor de Pingus, Bodega Dominio de Pingus
Flor de Pingus é o magnífico vinho da Bodega Dominio de Pingus, elaborado com uvas provenientes de vinhedos localizados no vilarejo de La Horra na Ribera del Duero. É um vinho de grande elegância, que merece ser decantado para mostrar todas as suas qualidades. As vinhas com aproximadamente 60 anos, plantadas em solos diversos.
Localizado em Quintanilla de Onésimo perto de Valladolid, o Flor de Pingus é um dos melhores crus de Espanha. Pingus é a alcunha dada a Peter Sisseck, enólogo dinamarquês e fundador da propriedade Dominio de Pingus que criou em 1995. Numa leitura exemplar do terroir, Peter fez a escolha, em 2003, de passar totalmente para a biodinâmica a fim de levar o Tempranillo à sua plena expressão. O Tempranillo nas suas terras de Ribera del Duero está no seu melhor e, inegavelmente, impõe respeito pelo seu volume, raça e bela sensação na boca. Apresente os seus sentidos à grandeza deste vinho!
Prêmios e notas em 2014: James Suckling 95 pontos, Robert Parker 94 pontos, Antonio Galloni 93-95 pontos e Wine Spectator 90 pontos.
Apresenta cor rubi intenso, com teor alcoólico de 14%.
O aroma é de ameixa, ervas secas e especiarias doces.
Em boca reflete os aromas, com taninos firmes e finos, equilibrado e final longo.
Harmoniza com carnes vermelhas.
Tim tim!
Bete Yang, é Engenheira Civil, formada em 1975 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é enófila desde 1996 quando visitou região vinícola de Stellenbosch na África do Sul. Fez cursos de vinhos em Curitiba, no Vale dos Vinhedos (RS), na Associação Brasileira de Sommeliers/RJ, em Rioja (Espanha) e na Ecole du Vin de Saint-Émilion (França). Desde 2017 é membro do Viniep (Confraria de vinho do IEP- Instituto de Engenharia do Paraná). Visitou mais de 200 (duzentas) vinícolas na Europa, América do Norte e do Sul, África do Sul e Oceania.
Fotos: Bete Yang e internet
Que maravilha de degustação, Bete!
Obrigado por compartilhar sua alegria denotada ao longo do texto!