OS DIAS DA SEMANA TÊM VIRTUDES E DEFEITOS. Uns são tristes por natureza, outros são alegres contra todas as evidências. Não se trata de meteorologia, mas de destino.
Há quem pense que a semana começa na segunda. Erro. A semana começa no domingo, conforme decretou em 321 d.C. o imperador Constantino ao fixar o Dia do Sol como aquele em que se descansa.
Daí a confusão emocional entre os dois dias. Para muitos, sendo a segunda o começo da semana, é dia imerso em fracasso e monotonia. Acordar cedo, voltar ao trabalho, lembrar-se de tudo que nos esforçamos por esquecer no domingo.
Ocorre que a semana começa no domingo, dia cheio de graça, mesmo que despenque uma tempestade pela manhã. Domingo não tem nada a ver com condições climáticas – é um estado de espírito. Dane-se a meteorologia. Qualquer um enfrenta o domingo com a melhor disposição. Por isso é o primeiro dia da semana, não tanto pelo decreto do imperador Constantino.
Já a terça é um dia neutro, sem graça. Quem marcaria uma tarde de namoro para uma terça-feira?
– Logo na terça? reclamaria a amada pretendida.
– Tem compromisso para a terça?
– Não. Mas terça… sei lá, é um dia esquisito, não acha?
– Você acha?
– Acho – e ela, mulher sábia, sugere: Que tal na quarta?
Tudo se ilumina. O impossível torna-se possível. Claro, na quarta, o dia das mais variadas possibilidades, quando temos enorme disposição e otimismo.
Será na quarta, quando resolvem tomar vinho e ele declama versos antigos. Ela fica encantada e diz que ele está com o rosto tão macio, barba bem feita, e ele finge desmaiar de emoção. Os dois dão gargalhadas. E amam-se como nunca.
Como se vê, tudo dá certo nesse dia.
Saltemos a quinta feira, por uma questão, digamos, estratégica. Nesse dia a imaginação de poetas e simples mortais costuma evaporar. Os amigos não se lembram da gente. As amadas sofrem uma demolidora enxaqueca. O síndico escala justo esse dia para a limpeza da caixa d’água.
Vamos à sexta-feira, um dia de luz, festa de sol. Há uma euforia que nos aproxima do domingo. Nenhuma conta a pagar – todas vencem no sábado, quando não se paga conta alguma, uma das poucas vantagens do sábado. As contas ficam para a segunda-feira.
Na sexta feira os encontros são inteligentes, até cães e gatos são espirituosos. Os habitantes da cidade rumam ao litoral. Como você não é bobo, evita sair da cidade. Chove na serra, neblina no caminho das praias, engarrafamentos indignos de uma sexta-feira. Fique na sua cidade, mesmo que seja Curitiba. Você e sua amada estão livres. Logo ela tocará a campainha.
O defeito da sexta é que em seguida vem o sábado, dia no qual não se pode confiar. Nuvens no céu, mesmo quando não chove. É um dia sem generosidade: nem chuva cai. Nada a fazer. Nenhum lugar aonde ir. Ninguém telefona. Negócio é ver filmes bestas na TV enquanto o cachorrinho da vizinha tem um ataque de latidos histéricos. No apartamento de cima, um piano é martelado com insegurança.
Você reclama:
– Cadê o domingo?!
Relaxe. O domingo, sendo generoso, virá a seguir. A vida se renovará. Tudo será pela primeira vez. Não desanime. Alguém telefonará.
Publicado na Now Boarding – dezembro/2018
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