De todos os lugares que visitei e países que conheci, nenhum me despertou tamanha saudade quanto a África do Sul. Estive lá durante cerca de um mês, na companhia do meu grande amigo Diego Franceschini e posso contar que o país é verdadeiramente acolhedor.
Reportagem e fotos: Daniella Féder
A pergunta “Olá, como vai?” inicia as conversas seja entre amigos ou com a recepcionista do hotel e vendedores dos comércios. O bom humor e bem-estar parece estar sempre em primeiro lugar. Estratégia inteligente para tornar a vida leve. Viajar à África do Sul é retornar com as energias renovadas e um semblante cheio de sorrisos.
As marcas da colonização inglesa são evidentes por toda a parte. Na excelente urbanização e arquitetura de tijolos à vista, no sotaque britânico, no trânsito em mão inglesa, na fixação por tecidos xadrezes (o que faz um interessante contraste com os fascinantes estampados africanos ultra coloridos) e no café da manhã pesadíssimo – o tradicional “english breakfast” leva pelo menos linguiças, ovos e bacon, o que parece fazer mais sentido no clima frio e chuvoso da Inglaterra que no calor sul-africano. Mas não sou eu que faço as regras.
Desembarque em Joanesburgo
A chegada ao país foi pelo aeroporto internacional de Joanesburgo, após escala na Luanda (Angola). Uma dica: se você não estiver levando cartão da bandeira Visa, abasteça a bagagem de mão com os petiscos do avião e água antes de descer, porque as lanchonetes do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro até aceitam dólar, mas devolvem o troco em Kwanza e lá não tem câmbio para fazer a troca. Coisas que não fazem sentido…
Na África do Sul, a moeda é o Rand. O fuso horário marca 4 horas de diferença para mais, contando o horário de verão brasileiro. Na capital, carinhosamente apelidada de Joburg, dois ou três dias de estadia são suficientes – se um deles for dedicado ao city tour, essencial para se ter um parâmetro da cidade e conhecer os principais pontos turísticos. Ao comprar o bilhete, escolha a opção que inclui o bairro Soweto.
Entre as suas paradas, conheça o Carlton Centre, prédio com vista aérea de 360º da cidade, a cervejaria SAB World of Beer, que proporciona uma viagem no tempo fantástica sobre a história da cerveja na África, vinda dos sistemas tribais. Finalize com o Apartheid Museum para entender a fundo as terríveis ações que segregaram a população a partir da cor da pele, e em seguida, visite o bairro Soweto. Os negros de Joburg foram expelidos para aquela região periférica da cidade para que os europeus de cor branca pudessem desfrutar da cidade sem incômodos. Outra coisa que não faz sentido, já que os estrangeiros lá eram eles.
Visualmente, o Soweto lembra as favelas brasileiras, com pobreza e muitas casas com menos que o mínimo necessário. Foi lá que começaram a se deflagrar, com determinação, as lutas contrárias ao Apartheid. Tudo isso torna a região extremamente rica em história. É por isso que Nelson Mandela, na sua vida adulta, morou lá enquanto não esteve preso. Estar no Soweto e ciente do importante significado de tudo isso é de arrepiar.
Once in Joburg
A hospedagem foi no hostel Once em Joburg. Engana-se quem tem a imagem de uma acomodação exclusiva para jovens. Além de muito bem localizado, o hostel tem tudo o que um hotel 4 estrelas oferece, com o “plus” de ser todo de design – os quartos são lindos.
Safári e os Big Five
Joanesburgo foi, também, o ponto de partida para o safári. Escolhi passar três dias no Kruger Park hospedada no camping do Pretoriuskop. O pacote com transfer me buscou no hotel. Dividi a van com outros passageiros, entre eles Magdalena e Tabayi duas divertidas garotas suecas que se tornaram minhas amigas. O trajeto de cerca de 4 horas até o Kruger Park é decorado pela imensidão de montanhas verdejantes que muito lembra as serras brasileiras, mas com alguma tonalidade diferente na cor da vegetação. Bem, é quase o outro lado do mundo.
Tabayi pediu permissão ao motorista para plugar o celular no aparelho de som com uma “playlist” animadíssima de “hits” da música pop africana. O motorista – adivinhe – sabia cantar todas e até dançava durante as favoritas. Sobre acampar no meio do safári, erra quem associa as barracas a perrengue. A estadia foi digna de 5 estrelas tanto nas acomodações quanto no serviço, se é que no universo da hotelaria existe a categoria Camping 5 Estrelas. Se você pensa que vai dormir em colchonetes, engana-se: são confortáveis camas com lençóis brancos de algodão. A barraca tem iluminação, ventilador e espaço de sobra para ficar de pé e comportar as bagagens.
Sunset Outlook
Eu e a turma da van chegamos à tarde, nos instalamos e logo partimos para uma expedição, o “Sunset Outlook”. As saídas de jipe acontecem pouco antes do entardecer e no primeiro horário da manhã, pois é mais fácil observar os bichos quando o sol não está a pino. A empreitada dos safáris é encontrar os “Big Five” (Cinco Maiores), os cinco maiores mamíferos selvagens mais difíceis de serem caçados pelo homem. São eles o leão, elefante, búfalo, leopardo e rinoceronte. Avistamos todos eles logo no nosso primeiro safári, além de zebras, girafas, impalas, babuínos, oryx e muito mais.
A estadia no Kruger Park inclui quantos passeios o hóspede der conta de fazer. Além do safári, há o roteiro pelas belezas naturais da região. Leva o dia todo e passa por cachoeiras, o deslumbrante mirante God’s Window (Janela de Deus) e o Blyde River Canyon, com 25 km de extensão, 750 metros de altura e o rio azul que caminha entre as montanhas. Numa das cachoeiras, você pode arriscar um “bungee jump”. Eu fiquei só olhando.
Verão praiano em Durban
A cidade de Durban é o Litoral da África do Sul banhado pelo Oceano Índico. Águas azuis, translúcidas, calmas, com a temperatura perfeita para banho e muito sol para proporcionar aquele bronzeado. Minha ideia era passar todos os dias cozinhando ao Sol. No verão, acorde bem cedo porque a praia começa a encher logo às 6h – não é problema, já que o amanhecer começa bem mais cedo.
Lembra-se da Magdalena e Tabayi? Elas me contaram que locaram um apartamento pelo Airbnb em Downtown (Centro) e, chegando lá, a localização era extremamente insegura. Pois mesmo tendo ouvido as histórias de horror delas, passei pela mesma situação dias depois. No meu apartamento, também pelo Airbnb, não havia condições de sequer passar a noite, tamanha a estranheza do local. Fuja do centro de Durban, especialmente à noite, quando se torna ponto de tráfico de drogas e coisas piores ainda, de acordo com o motorista do Uber e dos funcionários dos hotéis de verdade. Vão te dizer para conhecer o Victoria’s Market, mas é furada. Fica no meio da muvuca e é impossível conseguir táxi ou Uber para ir embora depois de horas adquirindo artesanatos. Você pode encontrar bibelôs em outros lugares.
Por sorte, a equipe do Aeroporto Jornal estava de prontidão para me atender e logo alterei minha hospedagem para a região da Golden Mile. Do lixo ao luxo. Vale a pena pagar mais para acordar numa vizinhança de hotéis pomposos de frente para o mar e explorar os estabelecimentos gastronômicos do calçadão logo no café da manhã. Ah, passe um fim de tarde olhando o mar no bar California Dreaming, onde a cozinha é impecável. Depois, a “night” é nos bares da Florida Road.
A diversidade de povos de Durban traz riqueza cultural (observe os costumes de cada etnia, é muito interessante), mas também uma situação adversa: as praias se enchem de farofeiros do mundo todo e restos de comida, que por sua vez trazem… Formigas! Talvez Durban seja melhor ideia na baixa temporada.
Cape Town: a estrela da viagem
As paisagens praianas são lindas, mas ordinárias: água congelante e muitos tubarões. Quem banha Cape Town é a corrente fria do Oceano Atlântico vinda da Antártida. Ainda assim, vale locar um carro para encher os olhos com as mais belas praias que você verá. A fauna marinha aqui tem baleias, leões marinhos, focas, pinguins. Pegue estrada até o extremo-sul da cidade para conhecer o Cape of Good Hope (Cabo da Boa Esperança) e faça paradas em Boulders Beach para visitar os pinguins, Muizenberg para fotografar os vestiários em formato de casinhas coloridas e Noordhoek Beach.
No retorno, assista ao pôr do Sol no Bay Harbour Market, o mercado municipal mais legal e moderninho que já conheci. Num outro dia, curta praia em Clifton e Camps Bay, as duas vizinhas e rodeadas de mansões de veraneio de arquitetura fantástica. Almoce no The Hussar Grill Camps Bay, “steak house” de primeira linha.
Reserve uma tarde para a Table Montain, uma das 7 maravilhas naturais do mundo. Ponto turístico sabe como é: fila interminável, mas, chegando no topo, a espera valeu a pena. Cape Town é também o point da vida noturna. A Long Street tem bares e casas noturnas fantásticos, muitos deles temáticos. Fica a gosto de cada um. Exímia boêmia que sou, adoraria passar meses lá para vivenciar todos.
Aproveitando o assunto, na África do Sul não tem essa de cerveja popular ser feita com milho. Até as mais refrescantes são maltadas, então cada gole é um afago no paladar. O acompanhamento é sempre excelente: durante toda a minha estadia de quase um mês no país, não fiz uma refeição ruim ou satisfatória. Até os salgados dos postos de gasolina de beira de rodovia são saborosos. Na África do Sul, come-se e se bebe muito bem.
Publicado no Aeroporto Jornal – fevereiro/2017