Mais de 140 cientistas de 11 países analisaram a mudança climática e os impactos para as comunidades, a economia e o mundo e um dos feitos mais marcantes foi o da camada de gelo da Groenlândia que perdeu gelo em 2022, o 25º ano consecutivo de perda.
Um tufão, fumaças de incêndios florestais e o aumento de chuvas não é o que se imagina quando se fala do Ártico. Mas esses extremos de temperatura foram alguns dos eventos incluídos num relatório anual sobre a transformação do Ártico, antes coberto por neve e geleiras.
O estudo divulgado na página da Organização Meteorológica Mundial (OMM), é resultado de um relatório do Ártico para 2022 compilado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, Noaa, na sigla em inglês.
Comunidades locais e ecossistemas
A transformação do Ártico é detalhada na pesquisa de 147 especialistas de 11 nações e fornece um panorama importante da rápida mudança na região e o impacto que ela tem no meio ambiente, ecossistemas, economia e nas comunidades locais.
A OMM, e seus parceiros monitoram várias mudanças pelo mundo. Para o chefe da agência americana, Rick Spinrad, o relatório só mostra a urgência de se enfrentar a crise climática por meio de uma redução dos gases que causam o efeito estufa.
O relatório revela que de outubro de 2021 a setembro de 2022, as temperaturas anuais no Ártico foram a sexta mais quente desde 1900, o que seguiu uma tendência de décadas, na qual as temperaturas do ar ficaram quentes mais rapidamente que aquelas da média global.
Últimos 7 anos foram os mais aquecidos
Os 7 anos mais aquecidos do Ártico desde 1900 foram exatamente os últimos 7 anos.
Já a cobertura ou extensão de gelo da região ficou mais alta que em muitos anos recentes, mas mais baixa que a média de longo prazo. A extensão do gelo nos últimos anos, densidade e volume retornaram após quase um recorde de baixa no ano passado. Mas ficaram ainda baixo do que era nos anos 80 e 90 com gelo antigo sendo extremamente raro.
As águas abertas se desenvolveram perto do Polo Norte, durante grande parte do verão, permitindo fácil acesso a embarcações turísticas e de pesquisa de classe polar. A Rota do Mar do Norte e a Passagem do Noroeste também estiveram, em grande parte, abertas.
Estreito de Bering
Os registros de satélite de 2009 a 2018 mostram o aumento do tráfego marítimo de navios no Ártico à medida que o gelo marinho diminui. Os aumentos mais significativos no tráfego estão ocorrendo entre os navios que viajam do Oceano Pacífico através do Estreito de Bering e do Mar de Beaufort.
Isso gera oportunidades econômicas para novas rotas comerciais e coloca potenciais tensões causadas por seres humanos sobre os povos e ecossistemas do Ártico.
A temporada de neve do Ártico de 2021-2022 registrou uma combinação de acúmulo de neve acima da média, mas o derretimento precoce, consistente com as tendências de longo prazo de encurtamento das estações de neve persistiram.
As condições mais úmidas foram vistas em grande parte do Ártico de outubro de 2021 a setembro de 2022.
Dias secos
Os chamados eventos de precipitação pesada são mais comuns no subártico do Atlântico Norte, enquanto grande parte do Ártico central mostra aumentos em dias chuvosos consecutivos e diminuições em dias secos consecutivos.
E o 3º ano mais chuvoso dos últimos 72 anos foi notificado de outubro de 2021 a setembro de 2022.
Um dos feitos mais marcantes foi o da camada de gelo da Groenlândia, que perdeu gelo em 2022, o 25º ano consecutivo de perda.
Em setembro de 2022, a camada de gelo da Groenlândia teve um aquecimento sem precedentes no final da temporada, criando condições de derretimento da superfície acima de 36% da camada de gelo em 3 de setembro, incluindo o cume da camada de gelo da Groenlândia a 10,5 mil pés.
Isso se seguiu a um grande evento de derretimento da superfície de 18 de julho observado em 42% da superfície da camada de gelo.
NOTÍCIA: Sibéria teve calor recorde em 2021
Temperatura dos oceanos bate novo recorde em 2022
O aquecimento dos oceanos em todo mundo voltou a bater um recorde pelo sétimo ano consecutivo em 2022, informaram pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências nesta semana, informa a agência Ansa.
O estudo do grupo, que monitora as temperaturas desde 1950, foi publicado na revista “Advances in Atmospheric Science”, e conta com apoio de outras entidades interacionais, como o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV) e da Agência para Novas Tecnologias, Energia e Desenvolvimento Econômico Sustentável (Enea), ambas da Itália, e da Administração Nacional para Oceanos e Atmosfera (Noaa), dos Estados Unidos.
Segundo os resultados de 2022, a quantidade de calor aumentou 10 zettajoules – ou seja, 1 joule (unidade de medida de calor) seguida por 22 zeros – especialmente nos 2 primeiros mil metros de profundidade.
Para efeito de comparação, 10 zettajoules de calor podem manter em ebulição 700 milhões de chaleiras de 1,5 litro por um ano inteiro.
Além do calor em si já afetar toda a vida marinha, ele ainda provoca um efeito de alta na salinidade, o que causa um efeito de estratificação na água. Assim, as camadas não se misturam facilmente e levam a problemas na troca de calor, carbono e oxigênio com a atmosfera.
Com isso, os especialistas apontam que há fortes preocupações sobre os efeitos do problema não apenas sobre a vida nos ecossistemas marinhos, mas também na dos humanos e nos ecossistemas terrestres, já que são os oceanos os que mais absorvem o aquecimento provocado pelas atividades das pessoas.
Aumento de 1,2ºC na temperatura do planeta em 2022
Já as temperaturas no mundo em 2022 ficaram 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900), de acordo com um relatório divulgado também divulgando nesta semana pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, programa de observação da Terra da União Europeia.
Com isso, 2022 foi o oitavo ano consecutivo com temperaturas médias pelo menos 1ºC superiores ao período pré-industrial, indicando que a humanidade caminha a passos largos para descumprir a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris.
O tratado de 2015 tem como objetivo manter o aquecimento global neste século “bem abaixo” de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. No entanto, compromete as partes a realizar “esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C”, meta reafirmada na COP26, em Glasgow, em novembro de 2021.
Em 2022, a temperatura do planeta também ficou 0,3ºC acima da média do período entre 1991 e 2020. Ao longo do ano passado, prolongadas ondas de calor atingiram a Europa ocidental e setentrional, além de China, Índia e Paquistão, na Ásia.
O verão na Europa foi o mais quente já registrado, superando o recorde do ano anterior, de acordo com o Copernicus. Já na Antártida, o gelo marinho atingiu em fevereiro passado sua menor extensão em 44 anos de registros via satélite.
O serviço da União Europeia também constatou em 2022 uma concentração recorde de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera desde que se tem registros, com 417 partes por milhão (ppm), um aumento de 2,1 ppm em relação a 2021.
Já a concentração de metano, também recorde, atingiu 1.894 partes por bilhão (ppb), 12 ppb a mais que no ano anterior. Os dois gases são responsáveis pelo efeito estufa, que provoca o aumento das temperaturas do planeta.
Fontes: ONU News e Ansa