Você já deve ter lido ou escutado esta frase antes, mas sim, há vários brasis dentro do Brasil, repletos de belezas, tradições, sotaques, comidas próprias. Da mesma forma, o turismo tem se dividido para representar toda uma gama de segmentos: praia e Sol, ecoturismo, turismo de aventura, de experiência, gastronômico, religioso, cultural e muito mais! Aqui um pedaço do Brasil ainda pouco explorado. Um “pedação”, diga-se de passagem, pois estamos falando do Pará, segundo maior Estado brasileiro em extensão, localizado ao Norte do país e dono de uma cultura singular e de belezas únicas.
Já adianto: conhecer o Pará em sua íntegra logo na primeira viagem é algo impraticável! Vamos começar por algumas informações sobre sua capital, Belém, e dois destinos muito famosos: Santarém/Alter do Chão e Ilha de Marajó.
Belém é do Pará
A capital paraense foi fundada pelos portugueses em 1616, às margens da Baía do Guajará e rio Guamá. Sim, esta informação é importante para entendermos a cidade, com seu centro histórico repleto de referências da colonização portuguesa e o sotaque dos moradores, com seu “s” puxado de uma maneira bem diferente dos cariocas. Conhecer sua parte histórica é mergulhar no tempo em meio ao turbilhão de pessoas e carros da metrópole.
Não deixe de visitar a Praça da República, com seus vários coretos – todos diferentes um do outros – prédios históricos e, em especial, o Theatro da Paz. Por apenas R$ 6 (e portando a carteira de vacinação) é possível fazer uma visita guiada e descobrir os segredos deste prédio inspirado no Teatro Scala, de Milão, mas repleto de referências da cultura local.
Não muito distante está o famoso Mercado Ver-o-Peso, com sua mistura de cheiros e ofertas, as Docas repletas de bares e restaurantes, o Forte do Presépio e a Casa das Onze Janelas, que já foi hospital e hoje recebe visitantes de todos os cantos. Dá para visitar tudo a pé, e vale uma paradinha no Museu do Círio, que conta um pouco sobre o Círio de Nazaré.
A Região Metropolitana de Belém é repleta de bares, e é possível visitar ilhas próximas, mas há paradas obrigatórias para os turistas, como o Parque Mangal das Garças e o Museu Emílio Goeldi. O jeito vai ser voltar!
Pérola do Tapajós
Segunda cidade mais importante do Estado, Santarém está entre as duas grandes capitais do Norte do Brasil, Manaus e Belém, margeada pelos imponentes Rios Tapajós e Amazonas.
Distante 850 km de Belém, é uma das mais fortes potências turísticas do Pará. Para chegar até lá, o meio aéreo é o mais prático. Embarcações levam três dias de viagem!
Uma das cidades mais antigas da Amazônia, Santarém fui fundada em 1661, mas apenas em 1848 alcançou a independência como município.
Seu conjunto arquitetônico reflete o auge da extração do látex, formado pelo Teatro Vitória, pela igreja Nossa Senhora da Conceição e pelos solares do Barão de Santarém e do Barão São Nicolau. O Centro Cultural João Fona reúne cerâmicas e urnas funerárias tapajônicas no prédio que já foi cadeia, presídio, fórum, câmara de vereadores e prefeitura.
Na orla da cidade, da Praça do Mirante do Tapajós, é possível ver ao longe o encontro das águas azul-esverdeadas do Rio Tapajós com as águas barrentas do Amazonas, cortados diariamente por embarcações de todos os tamanhos.
Um detalhe pitoresco são os postos de combustíveis flutuantes localizados por toda a região.
Alter do Chão
A 37 km de Santarém, via rodovia Fernando Guilhon, encontramos o chamado caribe Amazônico, a vila balneária de Alter do Chão, que recentemente conquistou a 31ª edição do Prêmio Upis de Turismo, na categoria Melhor Destino Turístico Nacional. Em 2009, o jornal inglês “The Guardian” elegeu Alter do Chão a praia de água doce mais bonita do Brasil. Motivos não faltam para estas conquistas.
Quando ir a Alter? A qualquer tempo, mas é importante saber que sua paisagem muda drasticamente conforme o volume das chuvas.
Para conhecer as famosas praias banhadas pelo Rio Tapajós, vá entre agosto e dezembro, no chamado verão amazônico. No inverno, de janeiro a julho, o volume das águas sobe, tornado a região perfeita para o ecoturismo, com direito a passeios de barco em meio a floresta submersa.
Turismo comunitário
Santarém também é o ponto de partida para um passeio sensorial. Seguindo pelo Tapajós até um de seus afluentes, o Arapiuns, em uma viagem que pode levar de 2h a 3h30, conforme a potência da embarcação, encontramos a comunidade Coroca, que integra o Programa de Assentamento Agroextrativista Gleba Lago Grande e encontrou no turismo uma importante fonte de renda.
Os visitantes são recebidos por condutores locais, que levam os grupos para conhecer seu artesanato, o “Trançado do Arapiuns”, reconhecido pela qualidade das peças produzidas a partir das palhas da palmeira tucumã e tingidos naturalmente com açafrão, jenipapo, capiranga e urucum, produzido por várias comunidades da região.
Impossível não voltar a ser criança diante do criatório de tartarugas da Amazônia, onde alimentamos centenas delas, que disputam a ração alvoroçadas. E não dá para sair da comunidade sem um potinho do mel produzido por abelhas silvestres, sem o perigo das temidas ferroadas das espécies trazidas da Europa.
Ao final do passeio, somos servidos com uma deliciosa comida caseira, com muito peixe, é claro, e durante o retorno ainda paramos em um banco de areia para dar um mergulho em águas mornas – e isso não é uma metáfora!
Ilha de Marajó
Com pouco mais de 104,6 mil km², é um desses lugares quase “míticos”, cercado por muitas curiosidades e pouca informação.
Pensamos logo nos búfalos, claro, e na cerâmica marajoara.
Esta ilha costeira do tipo fluviomarítima fica situada na Área de Proteção Ambiental do arquipélago do Marajó, separada do continente pelo delta do Amazonas, pelo complexo estuário do rio Pará e pela baía do Marajó.
O principal acesso se dá pela travessia da baía a partir do porto de Icoaraci, em ferry boat ou lancha rápida. O ponto de chegada é o Porto Camará, em Salvaterra, cidade que guarda consigo os vestígios do primeiro forte construído na ilha principal, marcando o início da colonização não índia, e a bela praia de Joanes. Por meio de uma balsa chegamos à “capital do Marajó”, Soure, uma cidade que conta com um rico patrimônio histórico e as praias de Pesqueiro e Barra Velha.
Todas as praias são bem estruturadas e cada uma a seu modo oferece suas barracas com peixe, frutos do mar e carne de búfalo. São banhadas pelo rio Amazonas, que é invadido pelo mar. O resultado é uma água “salobra”, de temperatura extremamente agradável e uma correnteza que varia conforme o dia.
Mas ir a Marajó e não ver um búfalo de perto não tem a menor graça!
Na ilha há três cabeças para cada morador e não é raro ver manadas pastando calmamente ao longo das estradas ou ribeirinhos oferecendo uma voltinha no lombo do animal.
Bom mesmo é aproveitar o turismo rural local, para conhecer pessoas interessantes como Carlos Augusto Guedes, o Tonga, 74 anos, que ergueu “do zero” a Fazenda Milonga há 46 anos, e hoje recebe visitantes de todos os cantos para uma imersão que vai muito além da venda de seus queijos premiados, doces e licores. “Não tem porteira na nossa propriedade, nossa filosofia é dar oportunidade para os outros produtores, porque o turismo é a indústria mais justa”, pontua com simpatia, defendendo a importância econômica, social e cultural do búfalo para os moradores da ilha.
Se alguém duvida disso, fica o convite para conhecer a Ilha de Marajó!
Seleucia Fontes, jornalista