A 4.300 metros de altitude, a Cordilheira dos Andes guarda uma paisagem e viagem única e monumental. É o Pampa de Tara, cujos estratos geológicos jogam luz sobre nosso passado e impõe reflexões para o futuro.
Sem entrar no debate de atribuir terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas de grandes proporções ao aquecimento global, pesquisadores procuram encontrar na natureza respostas para as cinco grandes transformações que nosso planeta assistiu nos últimos 540 milhões de anos.
Entre as regiões mais espetaculares para esses estudos está o Pampa de Tara, localizado a 144 km de São Pedro de Atacama, no Chile, quase fronteira com a Argentina. Ali as paisagens se mostram como se as planícies desérticas de Gobi, na China, se misturassem às montanhas de pedras talhadas pelo vento da Reserva Monument Valley, nos Estados Unidos.
Sal
ar
E mais ainda: a existência de um salar. Este surge quando da forte evaporação das águas subterrâneas que deixam o sal na superfície.
O próprio trajeto partindo da cidade atacamenha, pela Ruta 27 até alcançar o Pampa de Tara, já é revelador. A geografia cativante é acompanhada da limpidez da atmosfera e da refulgência da luz solar.
Ela alternava paisagens lunares, de tão áridas, a pradarias de colorido vivo e altíssimas montanhas. Ali, nas alturas, a visão da cordilheira dos Andes além de fascinante é assustadora. Assustadora porque há uma constante sensação de ameaça, pois desde que se deixa o povoado de São Pedro, erguem-se ao lado da estrada os mal-humorados vulcões chilenos.
De início o imprevisível Licancabur, cujos 5.916 metros de altura sombreiam todo o vilarejo, e certamente por isso seu nome significa “senhor do povoado” no idioma kunsa. Tal sensação não diminui em nenhum instante durante todo o tempo, pois logo a seguir agiganta-se o Lascar, com 5.580 metros, muito dado às chamas e a constantes shows pirotécnicos.
Chaitén
É considerado um dos vulcões mais ativos da Cordilheira dentre os seus quase três mil. Sua última grande erupção data de 2006, alarmando os habitantes da região. Mesmo os mais simpáticos cerros que perfilam o horizonte até o Pampa de Tara, como o Toco, com 5.600 metros, ou o Zapareli de 5.652 metros podem a qualquer momento eclodir em ira.
Veja o caso do Chaitén, no sul do país. O que parecia um majestoso cerro, de um dia para outro, em 2008, virou um furioso lança-chamas e fez desaparecer três povoados sob suas cinzas.
A explicação dessas paisagens é dada pela geógrafa brasileira-chilena Laura Feindt Molina que começa a abrir a caixa preta da região: “A natureza dali é testemunha de diversos eventos relacionados às mudanças climáticas pelas quais a Terra passou.
Grandes cataclismos na Era Terciária fizeram soerguer o solo do leito do oceano, de um modo tão violentamente desigual que se produziram fraturas, pregas e fendas. Como resultado desse tremendo tremor de terra emergiram simultaneamente dessas águas as Cordilheiras dos Andes e do Himalaia. Esta é a placa tectônica mais ativa do mundo. Para equilibrar a conta, rebaixaram-se na mesma proporção as Fossas Marianas, no Pacífico”.
Mensagens ecológicas
Feindt também ensina porque alguns vales, que ali são muitos, têm a forma de U ou V. “Os primeiros são escavados pela neve, os outros pelos rios em climas sem degelo. Este fenômeno ocorre devido a neve demorar muito mais tempo para escorrer pelas montanhas e seu peso vai lentamente moldando o relevo, sem pressa. Isso não acontece com os rios que correm pelas serras e carregam nas fortes enxurradas tudo que encontram pela frente”.
Nesse trajeto também não faltam cenas com mensagens ecológicas. Materializa-se na planície, de repente, um imenso oásis. É um tamarugal. Há anos o governo mandou plantar milhares de tamarugos, árvore que, como a chañar, sobrevive no clima inóspito do deserto. Elas são fonte de vida para a população que ali se fixou, pois, suas sementes geram alimento e a madeira material para construir suas casas.
Mas uma pergunta vem logo à tona: por que as áreas de plantações são pequenas e esparsas? A resposta é dada pelo geólogo chileno A. Max. “Houve um brutal engano nessa cultura. Os agricultores desistiram de plantá-las ao ver que elas não se desenvolviam. Mais tarde se verificou que as mudas morreram não porque não se adaptaram, mas porque milhões delas foram plantadas sem retirar o saco plástico que envolvia os torrões das mudas”.
Beleza ameaçada
Em seguida, há a presença hostil de algumas manchas, na maioria brancas – como vitiligo numa pele morena – que se evidenciam nas encostas nuas e acobreadas das montanhas. São minas para extração de lítio, bórax, cobre, gesso e sal. Estas minas, ainda segundo Max, estão causando sérios problemas ambientais. “Elas extraem mais água do que as chuvas conseguem repor e, assim, os períodos de seca se tornam cada vez maiores”.
Max, também relata outra beleza ameaçada da região: a llareta (Azorella compacta umbelliferae), musgo que reveste grandes rochas e que depois de seco, além de utilizado como combustível para estufas, serve como pasta cicatrizante e chá para diabéticos. Sua cor verde se destaca no deserto monocromático: “Em breve poderemos não mais vê-la, pois corre sério risco de desaparecer. Embora hoje seja proibido, continua a ser retirada”.
A visão inicial do Pampa de Tara é fascinante. Logo se vislumbra uma paisagem monumental que agrega lagunas de águas calientes de azul-esverdeado contrastando com o límpido céu turquesa e as “Catedrais de pedra”, montanhas esculpidas pelo vento, que produzem uma atmosfera do despertar do mundo. E mais ainda o Farallón de Tara, um enorme paredão de pedra, cujos desmoronamentos ao longo de séculos deixam à luz cada um dos estratos de sua formação, devido às mudanças climáticas.
Por tudo isso, enfim, este lugar é único. É um verdadeiro playground para geólogos, geofísicos, climatologistas e geomorfólogos, e de estudiosos que ali encontram um conjunto de fenômenos e eventos climáticos de proporções globais e transformadoras do nosso planeta.
Bofedale
Os vestígios de grandes abalos sísmicos ainda são visíveis em uma imensa planície arenosa, de beleza tranquila, onde rochas esparsas se elevam como menires. Tais rochas são conhecidas como os moais ou guardiões de Tara. Ali uma sequência de rochas ígneas, índices de sua origem vulcânica, se apesenta na forma de enormes montanhas de pedra cujo matiz vai do ocre ao cinza.
Pouco à frente, um insuspeitado paraíso verde brilha ao lado do salar. É o Bofedale de Tara. Bofedales são uma espécie de tundra andina que dá vida ao altiplano (crescem em altitudes superiores a 4 mil metros). Ali pastam alpacas, lhamas e vicunhas ao lado de aves silvestres como a gaivota andina, o pato juarjual e os três tipos de flamingos (andino, chileno e james) que habitam o salar, de 3 ou 25 km², dependendo da época do ano.
À noite, todo o altiplano se torna azul-marinho sob um céu para lá de estrelado. Aí, então outros cientistas, estes de olho nas estrelas e através de gigantesco observatório astronômico e radiotelescópios irão perscrutar o Universo.
O Pampa de Tara é local que impõe reflexões. E mais: se ali podemos conhecer nosso passado pela leitura das pedras, também podemos pensar o nosso futuro olhando o céu.
Texto e fotos: Heitor e Silvia Reali (blog Viagens Plásticas)
Publicado na Now Boarding – fevereiro/2020
Pampa de Tara, Chile, and its revealing geography
Heitor e Silva Reali, text and photos, from Viagens Plásticas blog
AT 4,300 METERS ALTITUDE, THE ANDES MOUNTAINS GUARD A UNIQUE AND MONUMENTAL LANDSCAPE. It is the Pampa de Tara, whose geological strata shed light on our past and impose reflections for the future.
Without entering into the debate of attributing major earthquakes, tsunamis and volcanic eruptions to global warming, researchers seek to find answers in nature for the five great transformations that our planet has witnessed in the last 540 million years.
Salar
Among the most spectacular regions for these studies is the Pampa de Tara, located 144 km from San Pedro de Atacama, Chile, almost on the border with Argentina. There, the landscapes are as if the desert plains of Gobi, in China, were mixed with the mountains of stones carved by the wind of the Monument Valley Reserve, in the United States. And even more: the existence of a salar. This arises from the strong evaporation of groundwater that leaves the salt on the surface.
The path itself, leaving from the city of Atacama, along Route 27 until reaching the Pampa de Tara, is already revealing. The captivating geography is accompanied by the clarity of the atmosphere and the effulgence of sunlight. It alternated lunar landscapes, so arid, to brightly colored prairies and towering mountains. There, in the heights, the sight of the Andes mountain range is not only fascinating but also frightening. Frightening because there is a constant feeling of threat, because since leaving the town of São Pedro, Chile’s bad-tempered volcanoes have risen by the side of the road.
Chaitén
Initially, the unpredictable Licancabur, whose height of 5,916 meters shades the entire village, and that is certainly why its name means “lord of the village” in the Kunsa language. This sensation does not diminish at any moment during the whole time, as the Lascar immediately looms, with 5,580 meters, much given to the flames and constant fireworks shows. It is considered one of the most active volcanoes in the Cordillera among its nearly three thousand. Its last major eruption dates back to 2006, alarming the region’s inhabitants. Even the nicest hills that line the horizon to the Pampa de Tara, such as the Toco, at 5,600 meters, or the Zapareli at 5,652 meters, can erupt in anger at any time. Take the case of Chaitén, in the south of the country. What looked like a majestic hill, overnight in 2008, turned into a furious flamethrower and made three villages disappear under its ashes.
The explanation of these landscapes is given by the Brazilian-Chilean geographer Laura Feindt Molina, who begins to open the region’s black box: “Nature there is witness to several events related to climate change that the Earth has undergone. Great cataclysms in the Tertiary Age raised the ground from the ocean floor in such a violently uneven way that fractures, folds and cracks were produced. As a result of this tremendous earthquake, the Andes and the Himalayas simultaneously emerged from these waters. This is the most active tectonic plate in the world. To balance the bill, the Mariana Trenches in the Pacific were reduced in the same proportion”.
Ecological messages
Feindt also teaches why some valleys, which are many there, are U- or V-shaped. This phenomenon occurs because snow takes much longer to run down the mountains and its weight slowly molds the relief, without haste. That doesn’t happen with the rivers that run through the mountains and carry everything they find in front of them in the strong torrents”.
There are also scenes with ecological messages on this route. It materializes on the plain, suddenly, an immense oasis. It’s a tamarugal. Years ago, the government ordered the planting of thousands of tamarugos, a tree that, like chañar, survives in the inhospitable climate of the desert. They are a source of life for the population that settled there, as their seeds generate food and material wood to build their houses. But a question soon comes up: why are the plantation areas small and sparse? The answer is given by Chilean geologist A. Max. “There was a brutal mistake in this culture. Farmers gave up planting them because they didn’t develop. Later it was found that the seedlings died not because they didn’t adapt, but because millions of them were planted without removing the plastic bag that wrapped the seedlings clods”.
Threatened beauty
Then there is the hostile presence of some patches, mostly white – like vitiligo on a brown skin – that are evident on the bare, copper slopes of the mountains. They are mines for the extraction of lithium, borax, copper, plaster and salt. These mines, according to Max, are causing serious environmental problems. “They extract more water than the rains are able to replenish and, thus, periods of drought become longer and longer.”
Max also reports another endangered beauty of the region: the llareta (Azorella compact umbelliferae), moss that coats large rocks and which after drying, in addition to being used as fuel for greenhouses, serves as a healing paste and tea for diabetics. Its green color stands out in the monochromatic desert: “Soon we will no longer be able to see it, as it is in serious danger of disappearing. Although today it is banned, it continues to be withdrawn”.
The initial view of the Pampa de Tara is fascinating. Soon, a monumental landscape can be glimpsed that brings together lagoons of warm, greenish-blue waters contrasting with the clear turquoise sky and the “Stone Cathedrals”, mountains sculpted by the wind, which produce an atmosphere of awakening to the world. And even more, the Farallón de Tara, a huge stone wall whose landslides over the centuries give light to each of the strata of its formation, due to climatic changes.
For all that, finally, this place is unique. It is a real playground for geologists, geophysicists, climatologists and geomorphologists, and for scholars who find there a set of climatic phenomena and events of global proportions that transform our planet.
Bofedale
The traces of great earthquakes are still visible on an immense sandy plain, of tranquil beauty, where scattered rocks rise like standing stones. Such rocks are known as the moai or guardians of Tara. There, a sequence of igneous rocks, indexes of its volcanic origin, appears in the form of huge mountains of stone whose hue goes from ocher to grey.
Just ahead, an unsuspected green paradise shimmers beside the salar. It’s Tara’s Bofedale. Bofedales are a species of Andean tundra that gives life to the altiplano (they grow at altitudes above 4 thousand meters). There, alpacas, llamas and vicuñas graze alongside wild birds such as the Andean Gull, the Juarjual Duck and the three types of flamingos (Andean, Chilean and James) that inhabit the Salar, measuring 3 or 25 km², depending on the time of year.
At night the entire altiplano turns aquamarine under a sky beyond starry. Then other scientists, these with an eye on the stars and through gigantic astronomical observatories and radio telescopes, will scrutinize the Universe.
The Pampa de Tara is a place that imposes reflections. And more: if we can know our past there by reading the stones, we can also think about our future by looking at the sky.
Pampa de Tara, Chile, y su geografía reveladora
Heitor e Silva Reali, texto y fotos, del blog Viagens Plásticas
A 4.300 METROS DE ALTITUD, LAS MONTAÑAS DE LOS ANDES GUARDAN UN PAISAJE ÚNICO Y MONUMENTAL. Es la Pampa de Tara, cuyos estratos geológicos arrojan luz sobre nuestro pasado e imponen reflejos para el futuro.
Sin entrar en el debate de atribuir grandes terremotos, tsunamis y erupciones volcánicas al calentamiento global, los investigadores buscan encontrar respuestas en la naturaleza a las cinco grandes transformaciones que nuestro planeta ha presenciado en los últimos 540 millones de años.
Salar
Entre las regiones más espectaculares para estos estudios se encuentra la Pampa de Tara, ubicada a 144 km de San Pedro de Atacama, en Chile, casi en la frontera con Argentina. Allí, los paisajes son como si las llanuras desérticas de Gobi, en China, se mezclaran con las montañas de piedras talladas por el viento de la Reserva Monument Valley, en Estados Unidos. Y más aún: la existencia de un salar. Esto se debe a la fuerte evaporación del agua subterránea que deja la sal en la superficie.
El camino en sí, partiendo desde la ciudad de Atacama, por la Ruta 27 hasta llegar a la Pampa de Tara, ya es revelador. La cautivadora geografía va acompañada de la claridad de la atmósfera y el resplandor de la luz solar. Alternaba paisajes lunares, tan áridos, con praderas de colores brillantes y montañas imponentes. Allí, en las alturas, la vista de la Cordillera de los Andes no solo es fascinante sino también aterradora. Aterrador porque hay una constante sensación de amenaza, porque desde que salimos de la ciudad de São Pedro, los volcanes de mal genio de Chile se han levantado al costado de la carretera.
Chaitén
Inicialmente el impredecible Licancabur, cuyos 5.916 metros de altura dan sombra a todo el pueblo, y por eso sin duda su nombre significa “señor del pueblo” en lengua kunsa. Esta sensación no disminuye en ningún momento durante todo el tiempo, ya que el Lascar se asoma de inmediato, con 5.580 metros, muy entregados a las llamas y los constantes espectáculos pirotécnicos. Es considerado uno de los volcanes más activos de la Cordillera entre sus casi tres mil. Su última gran erupción se remonta a 2006, alarmando a los habitantes de la región. Incluso los cerros más bonitos que bordean el horizonte hasta la Pampa de Tara, como el Toco, a 5.600 metros, o el Zapareli, a 5.652 metros, pueden estallar en cólera en cualquier momento. Tomemos el caso de Chaitén, en el sur del país. Lo que parecía una colina majestuosa, de la noche a la mañana en 2008, se convirtió en un lanzallamas furioso e hizo que tres pueblos desaparecieran bajo sus cenizas.
La explicación de estos paisajes la da la geógrafa brasileña-chilena Laura Feindt Molina, quien comienza a abrir la caja negra de la región: “La naturaleza allí es testigo de varios eventos relacionados con el cambio climático que ha sufrido la Tierra. Grandes cataclismos en la Era Terciaria levantaron el suelo del fondo del océano de una forma tan violentamente desigual que se produjeron fracturas, pliegues y grietas. Como resultado de este tremendo terremoto, los Andes y el Himalaya emergieron simultáneamente de estas aguas. Esta es la placa tectónica más activa del mundo. Para equilibrar la factura, se redujeron en la misma proporción las Trincheras de las Marianas en el Pacífico”.
Mensajes ecológicos
Feindt también enseña por qué algunos valles, que son muchos allí, tienen forma de U o de V. Este fenómeno se produce porque la nieve tarda mucho más en correr montaña abajo y su peso moldea lentamente el relieve, sin prisas. Eso no pasa con los ríos que corren por las montañas y llevan todo lo que hay por delante en los fuertes torrentes ”.
También hay escenas con mensajes ecológicos en esta ruta. Se materializa en la llanura, de repente, un inmenso oasis. Es un tamarugal. Hace años, el gobierno ordenó la siembra de miles de tamarugos, un árbol que, como el chañar, sobrevive en el inhóspito clima del desierto. Son fuente de vida para la población que se asentó allí, ya que sus semillas generan alimentos y madera material para construir sus casas. Pero pronto surge una pregunta: ¿por qué las áreas de plantaciones son pequeñas y escasas? La respuesta la da el geólogo chileno A. Max: “Hubo un error brutal en esta cultura. Los agricultores dejaron de plantarlos porque no se desarrollaron. Posteriormente se constató que las plántulas murieron no porque no se adaptaran, sino porque se plantaron millones sin quitar la bolsa plástica que envolvía los terrones de las plántulas ”.
Belleza amenazada
Luego está la presencia hostil de algunos parches, en su mayoría blancos, como el vitíligo en una piel morena, que son evidentes en las laderas desnudas y cobrizas de las montañas. Son minas para la extracción de litio, bórax, cobre, yeso y sal. Estas minas, según Max, están causando graves problemas ambientales. “Extraen más agua de la que las lluvias pueden reponer y, por lo tanto, los períodos de sequía se vuelven cada vez más largos”.
Max también relata otra belleza en peligro de extinción de la región: la llareta (Azorella compact umbelliferae), musgo que recubre grandes rocas y que después del secado, además de ser utilizado como combustible para invernaderos, sirve como pasta curativa y té para diabéticos. Su color verde destaca en el desierto monocromático: “Pronto ya no podremos verlo, pues corre grave peligro de desaparecer. Aunque hoy está prohibido, sigue siendo retirado ”.
La vista inicial de la Pampa de Tara es fascinante. Pronto se vislumbra un paisaje monumental que aglutina lagunas de cálidas aguas azul verdosas, que contrastan con el claro cielo turquesa y las “Catedrales de Piedra”, montañas esculpidas por el viento, que producen una atmósfera de despertar al mundo. Y más aún, el Farallón de Tara, un enorme muro de piedra, cuyos deslizamientos de tierra a lo largo de los siglos dan luz a cada uno de los estratos de su formación, debido a los cambios climáticos.
Por todo eso, finalmente, este lugar es único. Es un verdadero patio de recreo para geólogos, geofísicos, climatólogos y geomorfólogos, y para estudiosos que encuentran allí un conjunto de fenómenos y eventos climáticos de proporciones globales que transforman nuestro planeta.
Bofedale
Las huellas de los grandes terremotos aún son visibles en una inmensa llanura arenosa, de tranquila belleza, donde las rocas dispersas se elevan como piedras verticales. Estas rocas se conocen como moai o guardianes de Tara. Allí aparece una secuencia de rocas ígneas, índices de su origen volcánico, en forma de enormes montañas de piedra cuya tonalidad va del ocre al gris.
Un poco más adelante, un paraíso verde insospechado brilla junto al salar. Es el Bofedale de Tara. Los bofedales son una especie de tundra andina que da vida al altiplano (crecen en altitudes superiores a los 4 mil metros). Allí, alpacas, llamas y vicuñas pastan junto a aves silvestres como la Gaviota Andina, el Pato Juarjual y los tres tipos de flamencos (Andino, Chileno y James) que habitan el Salar, que miden 3 o 25 km², según la época del año.
Por la noche, todo el altiplano se vuelve aguamarina bajo un cielo más allá de las estrellas. Luego, otros científicos, estos con un ojo en las estrellas y a través de gigantescos observatorios astronómicos y radiotelescopios, escudriñarán el Universo.
La Pampa de Tara es un lugar que impone reflejos. Y más: si podemos conocer nuestro pasado allí leyendo las piedras, también podemos pensar en nuestro futuro mirando al cielo.