Se você já viajou sentado num assento ao lado da janela e logo atrás da asa, provavelmente deve ter reparado, antes de cada decolagem e pouso, no descolamento de algumas superfícies logo atrás da asa, certo? Pois bem: aquelas partes móveis da asa são os famosos flaps do avião.
E para que eles servem?
Os flaps são dispositivos que aumentam a sustentação do avião quando ele está voando em baixa velocidade, justamente nas operações de decolagens e pousos. Por esse motivo, eles somente são acionados para estas fases do voo, pois em alta velocidade eles não são necessários.
Praticamente todo avião tem flaps, desde um pequeno monomotor a hélice até um enorme jato comercial.
A alavanca que comanda o acionamento dos flaps está localizada ao lado direito das manetes de potência, como podemos observar na foto abaixo.
Repare que existem vários números ao lado da alavanca, que correspondem a diferentes posições do flap. A seleção do flap para as decolagens e pousos variam em função do peso da aeronave e do comprimento da pista.
Veja, por exemplo, na tabela do Boeing 737 (imagem abaixo) que quanto maior a posição do flap para a decolagem, menor será a velocidade.
Imagine que nosso avião irá decolar com um peso de 60 mil kg. Neste exemplo, a velocidade com a qual o piloto irá puxar o manche para iniciar a rolagem (VR) para o avião deixar o solo será de 153 knots (283 km/h) para flap 1 e de 138 knots (255 km/h) para flap 15.
Mas qual posição usar em cada decolagem?
Depende. Se o avião estiver decolando de Curitiba, que não tem uma pista grande (2.200 metros), ele irá usar o flap 15, pois irá atingir essa velocidade utilizando menos pista. Entretanto, se ele estiver decolando de Guarulhos, que tem um pista enorme (3.700 metros), irá decolar com o flap 1.
E para pouso?
Vale o mesmo raciocínio. Muito peso e pista curta, flap máximo (posição 40). Pouco peso e pista grande, flap menor (posição 30).
Neste exemplo, imaginando que nosso Boeing 737 irá pousar com 55 mil kg, em Curitiba, ele usará o flap na posição 40 e irá tocar o solo com uma velocidade de 138 knots (255 km/h).
Ah, legal, entendi. Mas, e se houver uma pane nos flaps?
Bom, primeira coisa a fazer, é ler o famoso QRH, que é um livrinho que fica no cockpit para ser consultado em case de alguma pane no avião.
No caso de uma pane de flaps, iríamos ler o checklist da página 9.1, com o título All Flaps Up Landing (pouso com os flaps recolhidos).
Neste cenário hipotético, a primeira preocupação do piloto será de escolher um aeroporto com uma pista comprida, pois irá pousar com uma velocidade bem alta.
Conforme está escrito no cheklist, ele terá que pousar o avião com uma velocidade de pouso para flap 40, acrescidos de 55 knots. Pegando o exemplo anterior, para um peso de 55 mil kg, ele irá pousar com incríveis 193 knots (138 + 55) ou 357 km/h!
Se, porventura, esse nosso avião estivesse indo para Navegantes (SC), é muito provável que o piloto alternasse o voo para o Aeroporto de Florianópolis que tem uma pista de 2.400 metros contra apenas 1.700 metros em Navegantes.
Com o aumento da velocidade do pouso, mais pista é necessário para o avião conseguir parar (dentro da pista, preferencialmente…).
Espero que tenha gostado da explicação.
Para finalizar, deixo a foto dos flaps de um Embraer 145 totalmente estendidos.
Se você nunca reparou nos flaps durante um voo, preste atenção no próximo voo. É bem interessante ver a operação de extensão e de recolhimento deles.
Sady Bordin tem 58 anos e trabalhou como piloto de linha aérea por doze anos, sendo cinco como comandante de Embraer 190/195 na Azul Linhas Aéreas. Tem mais de 7 mil horas de voo e atualmente é instrutor de solo e de simulador de voo na EPA Training Center. sady@embraer195.com.br