Uma viagem à Argentina significa, para os brasileiros, comer bem. Principalmente se imaginarmos a carne portenha feita na parrilla. O churrasco argentino vem de raças de origem europeia e encanta pelo sabor e maciez, ainda mais se for combinada com um vinho nacional, no caso os produzidos em Mendoza. Mas nem só de parrilla vive a gastronomia da Argentina e ao descobrir esses novos sabores, os brasileiros vão encontrar boas surpresas.
Formada por uma combinação da cultura dos colonizadores espanhóis, dos povos nativos e dos imigrantes que vieram no século 19, a cozinha do país combina tradições e ingredientes para produzir uma riqueza única.
Pouca gente se surpreendeu em março quando o Don Julio, parrilla de Palermo Viejo, em Buenos Aires, foi eleito como melhor restaurante de carnes do mundo no World’s 101 Best Steak Restaurants, um ranking organizado anualmente em Londres. Os 11 jurados, de todos os continentes, visitam anonimamente mais de 700 restaurantes indicados ao redor do mundo, avaliando itens como qualidade da carne, identidade das receitas e qualidade do serviço. O Don Julio já havia obtido o vice-campeonato duas vezes, mas agora ficou na primeira posição. Além da carne, a casa se destaca pela adega de vinhos, com mais de 18 mil rótulos argentinos. Mas a fama tem seu custo: fila na porta, por isso se quiser confirmar o título da casa, faça reserva. Na mesma premiação, o La Cabrera ficou em 48º lugar.
Mas quando se olha para outras listas gastronômicas, o retrato da Argentina fica ainda mais rico.
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No ranking do Latin America’s 50 Best Restaurants, divulgado no final do ano passado, 8 dos campeões ficam em Buenos Aires. A amostra ilustra a variedade da gastronomia do país: além do Don Julio está também a parrilla Elena, do luxuoso hotel Four Seasons, mas, também, o modernoso Aramburu, que usa ingredientes locais com influência do estilo molecular, e o original Julia, que abre apenas de segunda a sexta à noite num clima de wine bar, com pratos experimentais que mudam regularmente.
Do outro lado do espectro gastronômico há o El Preferido de Palermo, que se inspira nos petiscos dos antigos bodegones, os tradicionais botecos portenhos. E o Mishiguene, que faz versões modernas de pratos judaicos. O Amarra, antigo Chila, faz alta gastronomia com direito à vista de Puerto Madero, enquanto o Gran Dabbang mistura ingredientes locais com street food asiática.
Isso apenas se falando em restaurantes estrelados. Mas logo se descobre que mesmo nas ruas é possível ter experiências gastronômicas espetaculares.
Em Buenos Aires é clara a influência dos imigrantes europeus, principalmente italianos, com suas pizzas e massas, e dos espanhóis, que trouxeram tapas e pratos como a tortilla de papas, um clássico da culinária raiz que pode ser provado em sua versão tradicional nos mercados da cidade. A street food inclui o choripán, clássico sanduíche de linguiça com diferentes temperos, entre os quais o favorito é o molho de ervas conhecido como chimichurri. Por sinal, o guia gastronômico TasteAtlas, no final de abril, criou uma polêmica internacional ao fazer uma lista dos melhores estilos de cachorro-quente do mundo. O Perro Caliente, da Colômbia, ficou em terceiro, e o Hot Dog Chicago-Style, dos Estados Unidos, em segundo. O grande vencedor, segundo os votos dos jurados, foi o Choripán. A votação gerou protestos, não porque alguém contestasse o sabor do sanduíche, mas por ele ser feito com chorizo (linguiça), no lugar da salsicha viena, usada nos outros cachorros-quentes.
A variedade vai crescendo à medida que se visitam outras regiões.
No Norte argentino, em províncias como Salta e Jujuy, há muita influência da cozinha dos povos indígenas com as famosas empanadas de diversos sabores, as humitas e os tamales. Ali, os vinhos que se destacam são os brancos, produzidos com a uva Torrontés em grande altitude, nas montanhas de Salta. As tortillas rellenas, que não tem nenhuma semelhança com as tortillas espanholas, são uma comida de rua extremamente popular: uma massa com recheios variados, assada em churrasqueiras diante do freguês. Lá também brilham o Pastel de Choclo – que, apesar do nome, não parece com o nosso pastel, e sim com o Escondidinho. É uma massa de milho que cobre um recheio que pode ser de carne ou frango, sempre delicioso. Em Catamarca, o jigote é um prato celebrado e o cabrito também faz sucesso. E, como sobremesa, os quesillos, que na aparência lembram os pudins brasileiros, mas têm uma receita diferente.
Na Patagônia, ao Sul do país, há muitos peixes no cardápio, mas a estrela costuma ser o Cordeiro Patagônico com seu sabor único, preparado de diversas maneiras, mas sempre com cozimento muito lento, ao longo de várias horas.
Já no Litoral do Extremo Sul da Argentina, próximo a Ushuaia, a estrela é o delicioso caranguejo gigante, conhecido pelo nome de Centolla. Em toda a região, a presença de imigrantes de origem alemã favoreceu a presença de doces que lembram os da Europa central.
Com apoio Opus 1060